Por Rubens Queiroz de Almeida
Data de Publicação: 25 de Janeiro de 2008
No livro Segredos e Estratégias de Sucesso da Microsoft, de autoria de David Thielen, nós encontramos o seguinte comentário:
Para aqueles que ficam imaginando por que o software da Microsoft está sempre um pouco aquém do esperado, aqui está uma grande parte da razão: Há pessoas apenas o suficiente para implementar as características que absolutamente devem ser incluídas, e só há tempo disponível para implementar cada característica da maneira mais rápida aceitável. E há tempo e pessoas somente o necessário para testar o produto até o ponto em que o mercado o aceitará marginalmente; não mais.
Basicamente, eles só vão até o ponto em que as pessoas toleram. Se o usuário suporta sem dor dez falhas de sistema por dia, então acabou. Não se faz mais nenhuma melhoria. O software só é desenvolvido até o ponto em que viabilize a sua comercialização. Melhorias só se acontecer algo inusitado, como o surgimento do Firefox, que ocasionou o lançamento da nova versão do Internet Explorer, que havia ficado parado na versão 6.0 por vários anos.
Esta afirmação do livro me lembrou também de algumas palestras que assisti em Porto Alegre, nos FISL. A primeira delas foi a palestra de Rasmus Lerdorf, criador do PHP. Na palestra ele mencionou, que um dia, em um aeroporto, pensou que seria interessante ter uma função em PHP que pudesse extrair informações das fotografias de sua camera digital. Então ele escreveu uma. Pode ser que ele seja o único a usar esta função, pode ser que não. O que importa é que, constatada a necessidade, ele possuia tudo que era necessário para atendê-la. Competência, vontade e o código fonte aberto do PHP. O Rasmus foi quem criou o PHP, mas o que ele fez qualquer um poderia ter feito.
A outra palestra a que me refiro foi dada por Peter Salus, historiador e autor do livro A quarter century of Unix. Na palestra ele comentou um fato interessante. Toda página de documentação de sistemas Unix possui, ao final, uma seção chamada AUTHOR e outra chamada BUGS. Na seção BUGS o autor (claramente identificado na seção AUTHOR) relata os problemas existentes no programa ou coisas que o programa ainda não faz. Ele observou que, muitas vezes, ao escrever os bugs ou deficiências do programa, o autor pensava consigo mesmo: "eu não posso escrever isto", e então tratava de modificar o programa para sanar os problemas. Neste processo, o software, é claro, ficava bem melhor.
Acho que ninguém ainda escreveu um livro chamado Segredos e Estratégias de Sucesso do Software Livre, mas se alguém se resolver a escrever, estes dois pequenos exemplos são indispensáveis. O primeiro exemplo ilustra a liberdade de se melhorar algo, sem pedir nada para ninguém ou implorar por acesso ao código fonte. Basta querer. E o segundo indica claramente um dos principais motivos pelos quais o software livre é mais estável e melhor. Programar é uma atividade criativa e altamente gratificante. Da mesma forma, é motivo de grande orgulho ter seu nome associado a um programa de qualidade. Como os programadores no mundo do software livre são entidades reais, conhecidas, existe um empenho em entregar para a comunidade o melhor possível. Em sistemas proprietários, os programadores são anônimos, tudo o que se conhece é o nome da grande empresa que patrocina seu desenvolvimento. Dizem que, na suite Office da Microsoft, se você pressionar simultaneamente umas vinte teclas, você consegue ver a foto do time de desenvolvedores. Deveria ser mais fácil, como no mundo do software livre, obter reconhecimento por seu trabalho.