Por Rubens Queiroz de Almeida
Data de Publicação: 28 de Janeiro de 2008
Eu tenho um amigo que odeia computadores. Chegou ao cúmulo de comprar um computador e não conseguir usá-lo, tal era o temor que as novas máquinas lhe inspiravam. Entretanto, com o passar do tempo, e com a necessidade, foi gradualmente aprendendo a domar a máquina. Escrever emails, redigir documentos, etc. Era um usuário do tipo que sabia abrir um arquivo, digitar o texto, salvar de vez em quando, e fechar o aplicativo. Nada mais. Usava o editor de textos como uma máquina de escrever. Foi aprendendo, com o tempo, a fazer um negrito, um sublinhado, um itálico.
Alguns anos atrás, eu estava desenvolvendo uma adaptação de um instalador automático de sistemas GNU/Linux. O objetivo era criar uma instalação para usuários que nunca haviam tido contato com computadores ou então que tivessem apenas um conhecimento básico. Recebi então, durante este período, a visita do meu amigo, que me pediu para usar um computador com Windows. Sem dizer nada a ele, eu lhe indiquei um dos computadores em que estava trabalhando, que possuia uma versão do Openoffice e o browser Mozilla ou algo assim. Não disse que não era Windows.
Conhecedor da fobia que ele tinha de computadores, eu estava aguardando o momento do pânico total. Para minha surpresa, ele abriu o OpenOffice, trabalhou e salvou o arquivo que queria, imprimiu, etc. etc., navegou pela Web, leus os emails, enfim, fez tudo que normalmente fazia em sua máquina com Windows. Ao sair, ele me agradeceu e disse: "Puxa, muito bonito este seu Windows. Qual versão você está usando?".
Não respondi. Acho que se dissesse que por quase uma hora ele havia trabalhado usando um computador com GNU/Linux instalado, o trauma seria irreparável. Se desde o começo dissesse que não tinha máquina com Windows mas somente com GNU/Linux, tenho certeza de que ele me agradeceria e iria embora. O meu amigo tinha uma natural aversão a computadores e ao longo do tempo desenvolveu uma crença de que só conseguia trabalhar com o Word e o Windows. Tentar oferecer qualquer outra alternativa a ele seria inviável. Sem o saber, entretanto, ele demonstrou, que em termos de funcionalidade, recursos e facilidade de uso, sistemas GNU/Linux se equiparam a sistemas proprietários.
O meu trabalho, na época, era desenvolver uma interface mais enxuta para usuários leigos de computador, para uma empresa que estava planejando, pioneiramente e com muita coragem, vender computadores com apenas o GNU/Linux instalado. Cortei e simplifiquei muitos os menus, coloquei atalhos para os aplicativos mais usados, enfim, tentei colocar tudo muito visível. Aparentemente deu certo. (o passo a passo do meu trabalho ainda está publicado na Dicas-L.
Isto me lembrou também de uma palestra que assisti em Portugal. A empresa Caixa Mágica relatou um caso de migração para software livre em Portugal. Primeiramente, em um final de semana, trocaram todos os aplicativos Office, da Microsoft, pela suite OpenOffice. Ao chegar para trabalhar, na segunda-feira, os funcionários estranharam: "O Office mudou, mas o sistema operacional é o mesmo. Tudo bem então."
Três meses depois, foi a vez do Microsoft Windows dar lugar ao GNU/Linux. Novamente os funcionários estranharam. "Mudou o sistema, mas o Office continua o mesmo. Tudo bem então". E viveram todos felizes para sempre usando software livre.
De tudo isto, e muitos outros casos, passei a ver que o problema maior para a migração para software livre para usuários comuns, não é técnica, e sim comportamental ou de percepção. O computador ainda é, para muitas pessoas, algo intimidante, e também, ninguém gosta de mudança. Deve existir um fator mais forte que motive esta mudança. Existem empresas que condicionam a compra de novas máquinas à concordância do usuário em passar a usar software livre. Esta tática funciona muito bem. Você conhece outras estratégias? Envie-nos os seus comentários.