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Data de Publicação: 04 de Julho de 2006
Faz muito tempo escrevi uma apresentação chamada "Todos somos programadores". Com ela eu procurava convencer as pessoas que, ao contrário do que a maioria parece estar convencida, programar é algo fácil e natural. Estamos "programando" quando ensinamos a uma outra pessoa como ir de um lugar a outro, quando ensinamos como cozinhar alguma coisa. Programar é a arte de colocar o pensamento em uma forma estruturada, permitindo que um outro ser (que pode ser uma criança, adulto ou uma máquina) entenda e execute o que queremos. O resultado final da palestra era um pequeno programa escrito coletivamente em Python, que conjugava verbos regulares em português.
Uma preocupação que eu tenho com tecnologia é a falta de crítica em sua utilização. Claro que queremos que os computadores sejam cada vez mais fáceis e acessíveis para que todos, sem exceção, possam utilizá-los. Um pouco sobre este assunto escrevi no artigo Computação para Humanos. Ao mesmo tempo, porém, que damos às pessoas facilidade de uso e acesso, devemos nos preocupar em continuar dando a elas também a base necessária para que explorem ao extremo o computador e seus recursos caso o desejem. Esta preocupação é provavelmente similar a que meus pais tinham quando as primeiras calculadoras portáteis começaram a aparecer: claro que elas facilitavam a vida, mas será que as crianças não corriam o risco de "emburrecer" ao usar calculadoras para algo que até então se fazia manualmente? Em termos práticos, não vi isto acontecer. Ao contrário, acredito que as crianças que têm acesso à tecnologia de uma maneira geral acabam valendo-se naturalmente dela, incorporam-na a seu dia-a-dia, seguem sendo crianças e, ao contrário de "emburrecer", genializam-se. Obviamente não dá para esquecer que crianças que têm acesso à tecnologia têm também acesso a muitas outras coisas que colaboram com seu crescimento pessoal e intelectual.
Com alguma freqüência trabalho como ajudante nas oficinas do grupo Gnurias, do qual sou orgulhoso padrinho. O grupo, formado em sua quase maioria por mulheres, busca fazer um trabalho de inclusão social e digital com ações simples, muitas vezes de curta duração, mas sempre efetivas no sentido de fazer com que as pessoas sejam mordidas pelo bicho da curiosidade tecnológica e, a partir daí, busquem mais informações, aprendam, passem a encarar a informática como uma ferramenta de melhoria de qualidade de vida. Dentre as oficinas mais populares promovidas pelas Gnurias estão as que aliam a informática à educação, onde busca-se trabalhar com programas que unam atividades convencionais de sala de aula à prática com a tecnologia, buscando sempre a simplicidade e a facilidade de replicação do trabalho para que ele possa ser disseminado além do grupo. Tal simplicidade e eficácia provou-se tão certeira que a propaganda boca-a-boca acabou levando as meninas do grupo a palestrarem e ministrarem oficinas em vários lugares do Brasil e do mundo. O conjunto de programas usados nas oficinas vão do popular OpenOffice.Org a outros específicos para crianças, como o TuxPaint e o gCompris, passando por uma série de ferramentas educativas disponíveis nos projetos KDE e Gnome. Para quem quer começar a explorar o mundo do software livre para o apoio à educação, as Gnurias recomendam sempre o Tatuí Educacional, desenvolvido originalmente para ser usado nas escolas municipais da cidade de Rio das Ostras, no Rio de Janeiro. O Tatuí pode rodar a partir de um CD, permitindo ao usuário que possa explorá-lo antes de decidir-se pela instalação. Nas nossas oficinas, o Tatuí nos permite trabalhar em virtualmente qualquer laboratório de informática que tenha leitoras de CD em seus computadores, assim não precisamos alterar a configuração original, além de podermos disponibilizar os CDs depois para os participantes, já que tudo o que ele contém é software livre. Outro projeto que vale muito a pena acompanhar é o Edubuntu.
Mesmo com toda esta oferta de softwares educacionais, eu sentia falta de um que permitisse o ensino de conceitos básicos de programação para crianças. Algo que atiçasse a curiosidade de saber "o que está por trás disto tudo". Já não sinto mais! Uma leitura no Freshmeat apresentou-me ao Little Wizard, um verdadeiro ambiente de programação para crianças. O projeto foi registrado há cerca de um ano no SourceForge mas já está bastante maduro e funcional. Sua internacionalização está baseada no gettext e já posso adiantar que há uma Gnuria trabalhando na tradução para o nosso português. A seção de "download" inclui exemplos fantásticos que ilustram o potencial do programa: há até uma implementação do popular jogo "Snake". Toda a programação é feita "clicando e arrastando" ações, operações matemáticas e lógicas, variáveis e números para a área do programa. Clicando no botão "Executar", o Pequeno Mágico irá executar as ações e operações propostas. O melhor de tudo é que já existe um tutorial elaborado por Kari Pahula e disponível no projeto Debian Junior. Enquanto escrevo este artigo, o tutorial está disponível apenas em inglês, pedindo para ser traduzido... Quem sabe esta não é aquela oportunidade para você que está esperando para colaborar com um projeto de software livre? Para traduzir, não precisa saber programar, mas traduzindo o tutorial do Little Wizard certamente você sentirá vontade de aprender!
Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.
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