você está aqui: Home → Coluna do Cesar Brod
De acordo com as Leis 12.965/2014 e 13.709/2018, que regulam o uso da Internet e o tratamento de dados pessoais no Brasil, ao me inscrever na newsletter do portal DICAS-L, autorizo o envio de notificações por e-mail ou outros meios e declaro estar ciente e concordar com seus Termos de Uso e Política de Privacidade.
Por Cesar Brod
Data de Publicação: 16 de Agosto de 2006
A história da tecnologia da informação está recheada de casos de sucesso e fracasso. Já ouvi pessoas compararem a evolução da tecnologia com a evolução das espécies. As espécies mais adaptáveis ao seu ambiente são as que sobrevivem e evoluem. Ainda assim, tecnologias que não evoluíram deixaram sua marca, sua "assinatura genética" em outras que foram adiante. Quem conheceu a arquitetura MSX relaciona facilmente os processadores especializados para áudio e vídeo às modernas placas usadas em computadores modernos. Repare que estamos falando de uma arquitetura que foi bastante popular em vários países, inclusive no Brasil, nos sempre lembrados anos 80!
Há também tecnologias que nunca chegaram a se tornar populares, mas que servem para testes de conceito em ambientes de laboratórios de pesquisa. Outras talvez estivessem simplesmente à frente de seu tempo. São notórias as invenções que foram virtualmente ignoradas inicialmente pela Xerox, desenvolvidas em seu próprio laboratório de pesquisas fundado nos anos 70: o PARC, ou Xerox Palo Alto Research Center, na Califórnia. Dentre tais invenções está o mouse, para ficar apenas em uma delas. Steve Jobs e Steve Wozniak, criadores da Apple, conheceram o "mouse" no PARC e esta humilde invenção revolucionou a forma como usávamos o computador.
Para os que gostam de acompanhar a evolução de sistemas operacionais, um lugar interessante para se visitar é o portal do Plan9. O Plan9 é um sistema operacional sem a mínima intenção de se tornar comercial, mas serve como base de pesquisa tecnológica nos laboratórios da Bell. O projeto começou no final dos anos 80 e entre seus autores originais estava Ken Thompson, que também participou da criação do Unix. Ainda que o Plan9 seja "mais ou menos" familiar para aqueles que conhecem o Unix ou o Linux (o que se evidencia ao abrir um terminal) ele trabalha com conceitos um tanto quanto diferentes, muitas vezes ousados para a época em que foram propostos.
Quem conhece o Unix (e o Linux) sabe que "tudo são arquivos". Para quem não conhece, apenas um exemplo bem simplificado: para fazer com que uma música seja executada, direciona-se a saída de um programa que toque áudio para o "arquivo" /dev/dsp (que representa a placa de áudio, seu driver e outras coisas necessárias para tocar a música). No Plan9, "tudo são processos" (programas em execução) e a comunicação entre eles. Cada processo é o "mestre de seu domínio", mas sem o poder de interferir no "domínio" de outros processos. É como se cada processo fosse o senhor de seu pequeno e extremamente especializado feudo, possuindo a habilidade de comunicar-se de forma efetiva com outros senhores de outros feudos.
A possibilidade de separação e isolamento dos processos permitia que se usassem pequenas máquinas especializadas, cada uma comunicando-se com a outra em uma rede. O paradigma que se buscava mudar na época, e que virou uma espécie de "mote" do Plan9, era "a construção de um Unix a partir de pequenos sistemas e não um sistema a partir de vários pequenos Unix".
O documento Plan9 from Bell Labs diz o seguinte: "O estilo moderno de computação oferece a cada usuário uma estação de trabalho ou computador pessoal. A idéia do Plan9 é diferente. As várias máquinas com telas, teclados e mouse provêm acesso aos recursos da rede de forma a serem funcionalmente equivalentes -- de forma similar aos terminais conectados a antigos mainframes. Quando alguém usa o Plan9, entretanto, o terminal é temporariamente personalizado para aquele usuário. Ao invés de personalizar o hardware, o Plan9 oferece a habilidade de personalizar a "visão" do sistema pelo usuário, o que é fornecido pelo software".
Isto não lembra coisas como a oferta personalizada de serviços via web? Muito do que o Google Labs tem oferecido e também o Live da Microsoft? Será que tecnologias como o Ajax não têm em seus genes um pouco do Plan9?
Boa parte das aplicações do Plan9 foram desenvolvidas diretamente para ele, sendo que tanto o sistema operacional como as aplicações estão sob licença de código aberto, a Lucent Public License. Para quem ficou curioso, experimentar o Plan9 é muito fácil. Basta baixar a imagem de um CD que, ao colocado no computador quando o mesmo é ligado, irá iniciar o sistema sem a necessidade de instalá-lo.
Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.
Mais sobre o Cesar Brod: [ Linkedin ] | [ Twitter ] | [ Tumblr ].