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Por Cesar Brod
Data de Publicação: 04 de Dezembro de 2006
No dia 28 de novembro de 2006 tive a honra de atender a um convite do Baguete e participar de um debate, junto a representantes da RedHat e da Oracle, sobre as ações e investimentos de grandes empresas em projetos de código aberto. O debate foi de altíssimo nível e, a meu ver, mostrou vários exemplos de consolidação de um modelo de negócio tão viável que, naturalmente, atrairia a atenção de grandes empresas. Tal atenção dá ainda mais força e gera mais negócios e oportunidades para aqueles que vivem do desenvolvimento e integração de soluções com softwares livres e abertos. A platéia, formada quase que integralmente por empresários da área de TI, foi bastante provocativa e, mesmo eu tendo dito algumas vezes que não deveríamos importar a confusão que a palavra _Free_ causa ao poder ser traduzida como livre ou grátis, dei o braço a torcer ao ser forçado a admitir que já fizemos tal importação. Por causa desta confusão muita gente acha que livre é sinônimo de grátis, o que prejudica os negócios em software livre e faz com que muitos prefiram usar o termo "aberto", da mesma forma que nos países de língua inglesa muitos adotaram o termo "open".
Não vou relatar o debate, pois o próprio Baguete e o InfomediaTV já o repercutiram com propriedade. Quero falar neste artigo é sobre a recorrência de certos assuntos que nunca irão convergir, pois discussões semânticas colocam à sombra princípios básicos e fundamentais. Para isto, uso como ilustração a série de comentários que se seguiu à publicação de notícias sobre o debate, especialmente no portal BR-Linux.
Em meu artigo "Ampliando Negócios com Software Livre no Mundo Proprietário", eu já dizia que tínhamos que abrir os olhos e aproveitar oportunidades para levar mais soluções baseadas em software livre em um mercado dominado por outras soluções. No debate, surgiu este assunto e eu disse que devemos "deixar de ser chatos" e ver que nas iniciativas de investimentos de grandes empresas estão se criando oportunidades que podemos aproveitar. Um trecho do que eu falei está devidamente registrado em vídeo. Em outro artigo, "Mais do mesmo", contei a história de Hiroo Onoda, soldado que seguiu lutando (e matando) por não ter se dado conta que a guerra havia acabado.
O que percebo é que, muitas vezes, ao nos prendermos em discussões semânticas, sobre a interpretação e entendimento que cada um tem das palavras livre, aberto, free, open e todas as confusões nas múltiplas tentativas de explicar o que é o que, perdem-se oportunidades de, na prática, levar adiante bons princípios de vida em comunidade, compartilhamento de informações e tantos outros. Já vi (assim como muitos que conheço) pessoas consideradas por muitos como "gurus" da comunidade de software livre afastarem pessoas que estavam iniciando-se no Linux ao tentarem dar um sermão irado sobre a escolha da liberdade versus conforto. Também vi grupos de usuários conseguirem conscientizar jovens sobre a beleza do compartilhamento de conhecimento usando para isto laboratórios de informática que só dispunham de software proprietário. Também já vi projetos de migração para software livre darem tão errado a ponto de usuários criarem uma verdadeira repulsa ao Linux e ao OpenOffice por causa de posições e atitudes radicais e empresas que acabaram adotando paulatinamente, cada vez com maior intensidade, sistemas em software livre na convivência pacífica com ambientes proprietários.
O radical, muitas vezes importante na mudança de paradigmas, nas revoluções, perde seu sentido ao não perceber que o paradigma já não é o mesmo e a revolução já tomou seu curso. Mesmo o radical tem que se renovar e buscar saber se está ainda fiel a seus verdadeiros princípios ou se foi pego apenas pela força das palavras de ordem que, incessantemente, gritou no início de sua luta. É importante manter e eternamente reconquistar mesmo o que já foi conquistado, mas para isto temos que, fincados em nossos princípios, estarmos atentos às mudanças.
Falemos então das ações da Microsoft, que foi um dos assuntos do debate acima mencionado e é sobre o que mais tenho sido perguntado nos últimos tempos. Além do Dicas-L, BR-Linux e outros portais dedicados ao software livre, eu acompanho as notícias do Porta25 da Microsoft e também busco informações em outros portais desta e de outras empresas. Recentemente, o Porta25 falou sobre a utilização da tecnologia _SenderID_, da Microsoft, agora em código aberto, pelo Sendmail, popular agente de transferência de e-Mails (MTA) em código aberto. O Eric Allman, autor do Sendmail, agiu errado em melhorar seu produto com código e especificações fornecidas pela Microsoft? Ou agiu certo em aumentar a visibilidade e funcionalidade de seu sistema?
Fiquemos com um exemplo nacional e bem próximo: o portal Navegue Protegido, iniciativa da fundação Ricky Martin e da Microsoft, com o apoio de importantes projetos brasileiros como o Cidade Escola Aprendiz, Instituto Ayrton Senna e outros, tinha, até pouco tempo, apenas conteúdo relativo a software proprietário. A própria Microsoft deu-se conta disto e contratou a Brod Tecnologia para desenvolver o conteúdo relativo à software livre. A Brod Tecnologia não devia ter feito este trabalho porque os recursos vieram da Microsoft, ou deveria (como o fez) aproveitar mais esta oportunidade para divulgar o software livre, mostrando que é possível criar com o Linux e outras ferramentas um ambiente onde crianças e jovens podem navegar com mais segurança pela rede?
É claro que em vários momentos a Microsoft competirá com soluções em software livre, assim como a RedHat competirá com a Microsoft e com a Oracle, assim como também existirá momentos de cooperação onde comunidades, usuários e empresas terão para si o melhor que este misto de competição e cooperação irá gerar. No final de cada dia temos, acredito, sempre um pouco mais de possibilidade de acesso a um conhecimento que está cada vez mais aberto. Mas como sempre digo, eu sou um eterno otimista!
Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.
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