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Inovação

Por Cesar Brod

Data de Publicação: 22 de Outubro de 2008

O número 117 do jornal salavip que é distribuido gratuitamente em vários aeroportos brasileiros traz uma matéria muito interessante: Inovação em vendas. Em duas páginas de leitura extremamente agradável tive o prazer de ler sobre os produtos da Cooperativa Vida Natural de Picada Café, aqui no Rio Grande do Sul que, dentre outros produtos, vende ovos de galinhas caipiras felizes! "Nossos clientes diziam que queriam coisas novas, diferentes do que estava nas prateleiras do mercado. Ouvimos e começamos a desenvolver produtos que, atualmente, apenas nós fabricamos", diz Ricardo Fritsch, presidente da cooperativa.

Foi muito bom ler isso pois periodicamente damos uma parada para repensar o planejamento estratégico da BrodTec. Os que leram meus artigos aqui no Dicas-L sabem que usamos o Scrum inclusive em nosso planejamento. Ou seja, para nós planejar não é algo que resulte em um plano a ser colocado na parede e seguido pelo período de um ano ou mais. Ao contrário, ele é um documento dinâmico, realimentado periodicamente pela experiência adquirida não só em nosso trabalho, mas pelo que ouvimos de nossos clientes, parceiros de negócios e amigos que acabam nos servindo como consultores de baixíssimo custo. Professor Eloni e Timothy Ney, um dia a BrodTec espera retribuir por todas as dicas fantásticas que nos deram!

Já contei em um artigo anterior que descobri que era consultor quando não mais consegui explicar para a minha mãe, a Dona Ione, o que eu fazia. Para que uma empresa de consultoria mantenha-se ativa no mercado, talvez mais do que qualquer outro tipo de empresa ela deve ter a capacidade de levar inovação e gerar inovação para os clientes com os quais trabalha. Ao mesmo tempo, deve preocupar-se em não ser ela própria o constante motor de inovação nestes clientes. Um trabalho de consultoria deve ter início, meio e fim. Ao final deste trabalho o cliente deve ter a real percepção de que é dono do "motor de inovação" descoberto, proporcionado ou melhorado pelo consultor. A máxima de que o consultor é pago para dizer aquilo que a empresa já sabia é verdadeira. Um bom consultor irá, antes de mais nada, conhecer a empresa (ou um setor dela no qual presta o serviço) e potencializar aquilo que está latente mas que pode ter sido escondido pelo dia-a-dia operacional. Na maioria das vezes as boas e novas idéias não são trazidas pelo consultor, mas descobertas em conjunto com a equipe com a qual trabalha.

Lendo o artigo e fazendo um paralelo com a história que levou-me à consultoria e à conseqüente criação da BrodTec eu percebi que, naturalmente, foi a busca pela inovação constante que me trouxe até aqui. A experimentação e semeadura de novas idéias, sempre vindas de um trabalho em equipe, é que foram construindo a base para as coisas que sigo fazendo. Há bastante tempo escrevi no prefácio de um livro do Morimoto: "São Bernardo de Chartres gostava de dizer que se imaginava um anão sentado nos ombros de um gigante. Com isto, valorizava o conhecimento dos que, antes dele, haviam interpretado as profecias de Daniel e explicava como, de sua posição, ainda conseguia dar nova luz a elas." Ou seja, para inovar não é preciso construir algo a partir do zero. Muitas vezes basta colocar alguma coisinha pequena acima de todo o vasto conhecimento e experiências que estão por aí, dando sopa.

Trabalhei em dois momentos na Tandem (que depois foi adquirida pela Compaq, que hoje é HP). No primeiro momento, entre 1992 e 1994, como gerente de suporte técnico, acumulando nos últimos meses, interinamente, as funções de diretor de marketing. Nesta primeira fase apaixonei-me pelos equipamentos de criptografia por hardware fabricados por uma subsidiária da empresa. O diretor de marketing da empresa, o Francisco Alves, que havia saído para trabalhar em uma grande operadora de cartões de crédito, já havia conversado comigo sobre a crescente necessidade de processos rápidos de criptografia no sistema financeiro. Esta idéia ficou latente na minha cabeça e, em 1996, quando voltei à Tandem como gerente de vendas para a área financeira, procurei inteirar-me do que os bancos estavam fazendo em termos de criptografia. Bastaram algumas conversas para que logo eu conseguisse colocar em um dos maiores bancos brasileiros a solução desta subsidiária da Tandem. Mais adiante, em um trabalho em equipe com o Jorge Tanaka e o Reinaldo Haddad, envolvendo a equipe técnica da BOVESPA e da Bolsa de Paris, trouxemos para o Brasil uma solução que acabou sendo a alma do pregão online. Em todos os casos, era o cliente que queria algo inovador, os ovos de galinhas caipiras felizes. O detalhe é que tanto os ovos como as galinhas já existiam, a questão era só propor algo inovador em cima disto. Aquilo que depois tanto nós como outros poderiam dizer: "puxa, como é que eu não pensei nisto antes!?"

Pulando no tempo, em 1999, quando eu já havia voltado para o sul e passei a prestar serviços de consultoria para a Univates (onde eu reportava-me ao Professor Eloni, citado acima), inovamos e criamos novamente em cima de idéias que já existiam. Da criação de um novo sistema acadêmico e administrativo em código aberto e usando a equipe existente na Universidade, à instalação de uma cooperativa de desenvolvimento e integração de soluções em código aberto, tudo o que foi feito foi colocar a cerejinha em cima do pudim que já estava por aí.

Há um ano buscamos ampliar a oferta de serviços de nossa empresa com a contratação de uma empresa especializada em venda de serviços de tecnologia. Não funcionou. Descobrimos que nosso negócio é muito difícil de explicar para alguém que queira vendê-lo como um produto. Por outro lado, nossos serviços são adquiridos por clientes que, de uma forma ou outra, acabam sabendo do que fazemos. A relação com a Microsoft, por exemplo, resultou de uma palestra que ministrei em São Paulo, graças a uma recomendação da Fabiana Iglesias, na época da InfomediaTV e hoje da E21, sobre modelos de negócio em software livre. Hoje já estamos no terceiro ano de contrato, trabalhando com os Innovation Centers de Interoperabilidade e Código Aberto que a empresa apóia em universidades brasileiras. Aliás, o constante contato com a academia é uma das fontes contantes de idéias inovadoras. Que o diga minha sócia, a Joice, que se forma em Engenharia da Computação no final deste ano.

Mas lá em cima falei em experimentação. A gente não pode parar de experimentar. Hoje é tão fácil! Para quase tudo existe algum ambiente na web que permite que testes de conceito sejam feitos com pouco ou nenhum investimento. Há cerca de dois anos gastamos alguns trocados tentando vender a idéia de redes sociais empresariais, uma espécie de "Orkut" corporativo. Na época, ao menos para o nosso público, a idéia não vingou como gostaríamos por vários motivos. Mas não desistimos. Criamos recentemente um espaço para a discussão de metodologias ágeis usando a infra-estrutura fornecida gratuitamente pelo Ning, o I-Scrum. Isto não nos traz nenhum retorno financeiro direto, mas nos coloca em contato com muitas pessoas com as quais podemos aprender ainda mais sobre o assunto, além de já ter rendido algumas palestras e muitos links para o nosso próprio portal.

Para inovar é preciso também manter a mente aberta. Quem diria que a tradição da BrodTec com softwares de código aberto levaria a um contrato de trabalho com a Microsoft? Não quis com este texto fazer propaganda da nossa empresa, mas apenas ilustrar, com base em nossa própria experiência que, de fato, há espaço para bons projetos quando mantemos constantemente a nossa capacidade de inovação. Mas, claro, fique a vontade para conhecer nossos projetos, onde muito em breve teremos mais novidades!

Sobre o autor

Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.

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