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Por Cesar Brod
Data de Publicação: 15 de Agosto de 2009
Conheci o professor Imre Simon no primeiro Fórum Internacional de Software Livre. Lembro que gostei do tema da palestra dele, mas não muito do ritmo e da forma da apresentação. A sensação era similar à de ouvir o Pierrot Lunaire do Arnold Schönberg. Ouvi pela primeira vez no Teatro Municipal de São Paulo, nos concertos ao meio-dia que aconteciam no início dos anos 80. Achei tão esquisito que comprei o LP na Bruno Blois ali no centrão de São Paulo. O Imre falava sobre compartilhar o conhecimento de uma forma tão mais ampla, em um tom tão monocórdio, que assustava e ao mesmo tempo dava sono. Ouço o Pierrot Lunaire e lembro do professor.
O Imre achou legal as coisas que lá no início dos 2000 fazíamos na Univates. Lembro que este foi o tema da nossa conversa depois que o Mário Teza nos apresentou na primeira janta dos palestrantes no primeiro FISL. O Imre sempre trabalhou com software livre, antes de darem o nome ao software livre. Eu estava no grato momento de implantar softwares livres em todos os níveis de um centro universitário que estava nascendo. Pegar de novinho é fácil! Eu tinha um laboratório legal pra brincar, o Imre tinha a USP, o Brasil, o mundo, muita estrada.
Uma vez disseram-me que a incoerência matemática maior era a soma do ego de doutores em uma sala. O resultado final da soma dos egos era sempre menor ao do ego de qualquer um dos doutores. Com o Imre nunca vi disputa de egos. Pelo contrário, acho até que tomei algumas em meus dedos justamente por não atingir o mesmo nível de humildade dele.
Em 2002 o Imre veio me visitar na Univates. Ele quis ver como conseguíamos fazer uma instituição de ensino superior rodar totalmente com softwares livres e mantermos um repositório para hospedar projetos, o Código Livre. O Imre já estava com o Tidia na cabeça. Eu e a Joice fomos buscá-lo no Salgado Filho. A Joice estava comigo pois fomos com o carro da Univates e eu não gostava (e não gosto!) de dirigir. Depois ela virou minha sócia, mas esta é outra história.
Fomos com o Imre no Paçoquinha, em Canoas. O vôo atrasou, estávamos todos com fome. Churrascaria das boas, aqui no Sul, não dá para descrever. Comemos muito. Em determinado momento a computação quântica pousou no meio de uma fatia de picanha. Eu fui tentar explicar, achando que estava agradando, pra Joice, sobre o tema e o Imre corrigiu-me educada e polidamente. Deu uma aula sobre o assunto. Não sei exatamente o quanto esta conversa no Paçoquinha fez minha sócia formar-se Engenheira. Eu falei que, praticamente, qualquer problema de computação poderia ser resolvido com uma máquina de Turing. O Imre disse: "Todos os problemas podem ser resolvidos com a máquina de Turing!". Eu só conhecia o Turing pelo Miguel de Icaza, numa apresentação que ele fez lá por 1999, mas esta também é outra história.
Na reunião que tivemos na Solis, o Imre apresentou o Tidia. A idéia era a de que o Código Livre fosse o repositório de código do Tidia (obviamente). Tivemos várias reuniões sobre isso depois. As idéias boas de uns não se sobrepõem às da maioria, infelizmente, e nem a uns ou outros egos. Isto explica, mas não perdoa, muitas coisas.
O último contato que tive com o Imre foi quando o Yochai Benkler esteve por aqui e fui convidado a participar de uma janta. Eu estava de viagem marcada para casa e achei que teria tantas outras oportunidades de encontrá-lo. Aí ele se foi. Antes do combinado, como diz o Rolando Boldrin.
Quando eu morrer, quero deixar um legado que seja só um pedacinho do que o Professor Imre deixou. O Google é testemunha! As idéias e pensamentos do Imre vivem na noosfera, na nerdosfera, na geeksfera...
Beijo na testa, Professor Imre!
Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.
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