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Por Cesar Brod
Data de Publicação: 15 de Fevereiro de 2010
Em 1971 minha família mudou-se de Arroio do Meio, no interior do Rio Grande do Sul, para Guarulhos, na região da grande São Paulo. Foi um trauma do qual só me recuperei quando voltei definitivamente para o sul em 1997. Antes disso, já casado, havia morado por alguns anos em Porto Alegre onde nasceram minhas duas filhas mais velhas. Até meados dos anos 80 eu não tinha email e a Internet mesmo só comecei a usar no final de 1992. Não adiantava muito, pois não era muita gente que tinha email naquelas priscas eras. Minha família cultivava a boa tradição das cartas e, talvez por isso, comecei a colecionar selos. Não era nada muito formal até virar febre. Acho que a doença mesmo começou em 1974, quando meu pai viajou para os Estados Unidos e nos mandava cartas cujos selos eu separava e guardava. Mais ou menos nessa mesma época comecei a ler sobre filatelia, ganhei um álbum e passei a frequentar a Praça da República para comprar e trocar selos e a acordar de madrugada para ir à agência dos correios do Mercado Público de São Paulo para conseguir carimbos de primeiro dia de circulação.
Minha filha do meio, a Aline, precisava de dinheiro para passar o carnaval em Garopaba, uma das mais belas praias gaúchas no litoral de Santa Catarina. Propus a ela que vendesse minha coleção de selos. Todos muito bem cuidados, alguns em folders e postais com os carimbos de primeiro dia de circulação. Toda uma seção de fauna e flora brasileira e exemplares de todos os lugares do mundo que já visitei. Doce ilusão! Ninguém mais quer saber de selos.
Eu não lembro da última vez em que escrevi uma carta, mas junto à minha coleção de selos está guardada minha correspondência com a Rádio Cairo, do Egito, onde eu ouvia no meu radinho Dunga o programa sobre filatelia destinado aos ouvintes brasileiros. Sei que na casa dos meus pais, em algum lugar, estão guardadas cartas trocadas com gurias que eu imaginava que eram minhas namoradas. O que eu lembro muito bem é da ansiedade e angústia da espera e da alegria com que eu lia cada carta que chegava.
No final de semana que passou instalei um novo computador para minha tia Valéria. Minha prima, a Sandra, está passeando pelo Vietnã e as duas conversam pelo Skype diariamente. Em muitas viagens que fiz, os cartões postais e cartas costumavam chegar, em boa parte das vezes, depois que eu já estava de volta. Mesmo depois do email eu cultivei, por muitos anos, o hábito de enviar cartões postais dos lugares que eu visitava. Na minha coleção ainda estão lá, fechadinhos e virgens, selos que comprei na Finlândia e nunca cheguei a usar. Eu acho que esta foi a última aquisição para a minha coleção de selos. A partir daí comecei a tirar fotos com a digital e a enviá-las por email. Não é a mesma coisa mas também não adianta ficar com nenhum saudosismo besta.
Recentemente assisti Avatar em 3D. Que coisa mais maluca e bonita. Morre um monte de gente mas o bem prevalece sobre o mal. Tri Walt Disney. Há quem compare Avatar a Pocahontas e, salvas as devidas proporções, é por aí mesmo. Nada que desabone o filme. Há uma conexão direta entre todos os seres vivos do planeta através dos rabos-de-cavalo que eles têm. Prescindem de cartas, emails e skype. Não vai demorar muito para que a tecnologia nos permita uma comunicação tão direta como a dos Na'vi, nos deixando ouvir e sentir uns aos outros e à natureza. Quem sabe, deste jeito, o mundo passe de 2012.
Agradeço a Deus por eu fazer parte de uma entre tantas gerações que teve a oportunidade de passar boas horas à frente de um papel pautado bem fininho, caprichando na letra e dedicando integralmente o pensamento a uma pessoa amada em um ponto distante do planeta. Mas ainda estou vendendo minha coleção de selos. Alguém se habilita?
Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.
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