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Por Cesar Brod
Data de Publicação: 07 de Dezembro de 2010
Um bom projeto é aquele que conta uma boa história. Gerenciar um projeto destes envolve escrever um roteiro, um script para esta história. Há um programa bem legal, chamado Celtx, que serve para, a partir de um roteiro, gerenciar todos os recursos de uma produção. Assim, se chover em um determinado dia no qual foi programada uma filmagem externa, o produtor saberá quais os atores e equipe de apoio devem ser contatados para um eventual reagendamento, otimizando os recursos.
O roteiro da Latinoware partiu de uma série de "tags" sobre as quais já falei na primeira crônica. Estas tags constituíam o argumento inicial, as coisas sobre as quais nossa história deveria se desenvolver. A partir dela, elencamos nossos atores principais, os palestrantes "keynotes", e trabalhamos junto à coordenação de cada comunidade quais os temas que gostaríamos de ver abordados. Claro que nosso argumento era flexível e sujeito a boas ideias, mas ainda assim é necessária certa rigidez para que o evento não vire uma salada de frutas onde ninguém sabe para onde ir ou o que assistir.
Uma das nossas linhas envolvia a qualidade na produção de software livre, mostrando tanto casos de sucesso quanto falando de engenharia de software, incluindo qualidade e métodos ágeis. Conseguir o keynote nessa linha foi bem fácil. O Doug McIlroy, que teve a ideia de conectar processos através de encadeamentos chamados pipes lá na origem do Unix, era nosso convidado em 2009 e preferiu não vir. Ele é extremamente perfeccionista e preferiu ficar um ano inteiro preparando a palestra que ministrou este ano: "Better versus Bigger", melhor em oposição a maior. A importância do Doug tanto na história do Linux quanto por sua influência em engenharia de software e, em especial, métodos ágeis é bem ilustrada pelo fato do próprio Maddog ter solicitado para fazer a apresentação do Doug. Ele retribuiu a gentileza, apresentando Maddog no dia seguinte. Recheando este tema ainda tivemos as palestras sobre Gestão de Projetos com o GERPRO, do professor Aleks Montanha; a famigerada, infame e divertidíssima "Porque eu sou louco por testes e você é um bundão", do Henrique Andrade e do Sylvestre Mergulhão, além de uma série de outras que abordaram estes temas de maneira direta ou indireta. O programa está online para quem quiser conferir.
A parte relativa à multimídia, incluindo gráficos para a web e para a impressão, produção tridimensional, vídeo, áudio, realidade aumentada e outros é sempre muito procurada na Latinoware. E cada vez mais buscamos, em função do apelo destes assuntos, usá-los para trazer um público não-nerd para o evento. Claro que não deixamos os nerds de lado, mas queremos mostrar a todos que dá para produzir coisas muito legais e até curtir uma boa diversão com softwares livres. Aqui nosso keynote foi o Igor Novikov, que conheci por causa do professor Montanha, que mencionei acima. Em junho deste ano, participei, a convite do Montanha, do evento Solivre X. O Montanha pediu-me que fizesse uma palestra sobre algo que eu considerasse interessante em termos de softwares gráficos. Mesmo não sendo esta a minha praia, eu estava justamente pesquisando alternativas de soluções para preimpressão: algo que me permitisse pegar arquivos em Corel ou Adobe Illustrator, trabalhar com eles e enviar direto para a gráfica. Também tem a questão de que tudo o que o Montanha pede eu tento atender - ele faz a mesma coisa por mim e assim vamos colocando um ao outro em desafios intelectuais que só nos ajudam a crescer. Foi daí que cheguei no sK1, um software que é mantido pelo ucraniano Igor Novikov, com quem comecei a trocar emails e que acabou vindo para a Latinoware. O Igor viveu sob o regime comunista na União Soviética e eles tinham uma ideia utópica de liberdade que traduzia-se na cidade do Rio de Janeiro, para onde o Igor foi logo em seguida da Latinoware. A versão do sK1 lançada durante a Latinoware chama-se Made in Brazil, uma homenagem do Igor para nós.
Aqui já aconteceu uma coisa interessante. A palestra do Igor não lotou. O tema foi técnico demais para aqueles que trabalhavam diretamente com a produção gráfica e, por outro lado, o assunto já era de conhecimento do pessoal que trabalha mais pesadamente com gráficos em software livre. Um dos elementos do sK1, na verdade o seu núcleo, o Uniconvertor, é o que softwares como Inkscape, Scribus e outros já usam para abrir arquivos do Corel e Illustrator. Por outro lado, a interação do Igor com o pessoal mais técnico, depois de sua palestra, foi muito boa, trazendo muitas ideias para a produção impressa da própria Latinoware em 2011.
Eu teria muita coisa para destacar das atividades envolvendo multimídia e engenharia de software, mas tudo isto está muito bem coberto nas várias entrevistas que foram publicadas no portal da Latinoware. Então, deixo aqui, um roteiro de leitura para os interessados:
Mas falando de novo de roteiros. Lembram-se do vídeo que publiquei no primeiro artigo? Ele também começou com uma troca de ideias entre o Cícero Moraes, o Luciano Lourenço e este que vos escreve. O primeiro roteiro, nunca publicado além de nossos emails, está aqui. Entre ele e o vídeo final muita coisa mudou. Teve que ser adequada em função de restrições, acomodação de novas ideias, etc. É assim mesmo que projetos acontecem.
Na semana que vem, redes sociais, a internet das coisas e software livre na educação.
Esta crônica tem a colaboração de Joice Käfer.
Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.
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