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Por Cesar Brod
Data de Publicação: 22 de Novembro de 2011
Sou extremamente lerdo ao acordar. Preciso muito daquela meia hora entre a negociação final com a soneca do despertador e o momento em que um de meus pés aterrisa no chinelo. Lembro que um dos acordos de meu casamento envolvia a preparação do café da manhã. Um dia eu o prepararia, no outro a Meire. No que seria meu primeiro dia eu propus que o melhor seria um cronograma semanal. No início da segunda semana a Meire resolveu não passar fome. A Meire acorda pronta. Admiro pessoas assim. Eu sempre acordo pela metade.
Antes de começar a trabalhar aqui em Brasília, no Ministério do Planejamento, minha vida foi na iniciativa privada e, por mais de uma década, brinquei seriamente de empresário. A BrodTec é, ainda hoje, uma empresa que independe da geografia. Não raro eu estava em um lugar e a Joice em outro. Mas inventamos o "dia integral". Ao menos uma vez por semana trabalhávamos os dois no escritório, que fica na casa da Joice. Nestes dias eu levava a Meire ao trabalho, passava no STR para comprar as coisas para o café da manhã que a Joice preparava. Depois disso eu acordava.
Hoje eu estava naquele momento de decisão entre abrir os olhos e seguir navegando na teia da memória quando dona Ione, minha mãe, me ligou. Eu estava revivendo um momento legal da minha infância ou adolescência. Detalhar mais do que isso seria mentir. A memória matutina é extremamente volátil. Minha mãe pediu que eu ligasse para a Maria Cecília, minha irmã, avisando que eu já estava em Brasília. Obedeci. Minha irmã consegue ser mais virginiana que eu. No dia em que eu for para o céu eu tenho certeza que vai ser ela que terá organizado todos os espaços por lá.
Mas, quando acordei hoje eu tinha uma memória da infância ou adolescência. Se foi! Eu poderia tentar inventar algo para compensar, mas não consigo. O prazer daquela memória que se foi não pode ser, artificialmente, igualado. Foi uma coisa matinal, talvez tivesse a ver com bicicleta e Arroio do Meio, com um beijo roubado de uma namorada, com algum mico qualquer.
Eu queria ter um backup da minha memória. Eu queria poder pesquisá-la com a sintaxe parecida a "lembro mais ou menos de uma coisa assim". Ousadamente, queria que essa pesquisa fosse aberta. Claro que tenho coisas das quais me envergonho em minha memória. Quem não tem? Tem quem queira um deus que perdoe os pecados. Eu perdoei a mim mesmo e acho que todos devem fazer o mesmo. Nosso passado é tão frágil. Eu não lembro mais daquela memória bonita que eu tinha quando acordei, mas sei que ela faz parte de mim.
Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.
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