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Por Cesar Brod
Data de Publicação: 25 de Outubro de 2012
Enquanto eu e outros amigos participávamos de uma mesa redonda sobre inclusão digital na Latinoware 2012 ocorria, no espaço de expositores, um evento paralelo que não fazia parte da programação oficial e que, basicamente, envolvia a entrega de prêmios às meninas mais rebolantes e gostosas e aos meninos que fizessem direitinho a coreografia da música "Robocop Gay", dos Mamonas Assassinas.
Na nossa mesa redonda questionávamos o infeliz termo "inclusão", já que ele reconhece que existem seres humanos excluídos. Existe uma soma de pequenas e grandes exclusões já que nós construímos o mundo para a maioria dominadora. Uso o pronome nós porque não acho justo que nos excluamos da responsabilidade da construção do mundo. Uso o termo "maioria dominadora" porque temos inúmeros exemplos onde pretos, pobres, índios, mulheres, menores são a maioria de fato, mas não a dominadora.
A maioria dominadora somos nós, caras-pálidas machos, adultos e mamíferos e, assim, como canta o bardo "You and me baby ain't nothing' but mammals / So let's do it like they do on the Discovery Channel". Nós, dessa maioria, fomos criados a pão-de-ló, mimados e incutidos de uma culpa judaico-cristã que apenas nos permite assistir escondidos aos vídeos do RedTube, mas que, na coletividade, nos permite produzir vários programas de TV onde o legal é ver mulher pelada. Desde que não seja uma das nossas. Tipo assim mãe, esposa, filha, nem pensar!
Acostumados por tanto tempo a esta dominância, nós ficamos inventando mil desculpas para perpetuar as coisas que gostamos. É uma questão antropológica, da evolução. Homens são criaturas visuais e, como é normal a atração pelo sexo oposto, quanto mais a gente botar elas para rebolar (numa mímica da possibilidade do ato sexual), cada vez com menos roupas (de preferência tirando-as devagarinho) melhor. Elas não se importam porque isso é tudo parte do grande jogo. As evidências estão em toda a parte! Do baile funk aos grandes eventos de tecnologia da informação, passando pelos de automobilismo. Ui! Cada gostosa nestes eventos de automobilismo, já viram?
Tá rolando uma discussão bem bacana no portal Teia, com o título Como desconsiderar mulheres e homossexuais (de uma só vez) brincando em eventos. A reflexão é um tapão na cara e na bunda de todos nós, caras-pálidas. É como se a mãe, reconhecendo o filho mimado, resolveu colocá-lo nos eixos. Nós, como maioria dominante temos que, de uma vez por todas, reconhecermos que cagamos no pau muito feio e há muito tempo. Está mais do que na hora de mudar de vez um montão de coisas. Por isso, mesmo sem ninguém ter me nomeado representante de coisa alguma, eu peço desculpas pelo montão de besteiras que temos feito e, da minha parte, prometo melhorar e incentivar outros a que também melhorem.
Não vamos deixar de ser leves, de sermos sexualmente diversos, de fazermos o que de melhor nossos sexos permitem, seja no aspecto profissional ou íntimo. Não vamos deixar de brincar, de ter nossa diversão aos pares, em grupo, nas nossas tribos. Mas vamos ter mais respeito uns pelos outros e reconhecer que a maioria mesmo é humana, em toda a sua belíssima diversidade.
Desculpa de novo aí, gente! Foi mal! Mas não nos excluam! A nossa maioria dominante é boba, mas é capaz de aprender.
Um abração pra todo mundo que fez da Latinoware 2012 um belíssimo evento. O melhor de todos, até agora!
Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.
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