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Doutora Natália

Por Cesar Brod

Data de Publicação: 12 de Dezembro de 2013

Estourando de orgulho, viajo para Porto Alegre em poucos minutos para a formatura de minha filha mais velha, a Natália. Quem é pai sabe, exatamente, do que estou falando.

Quando nos tornamos pais, passamos a ter, imediatamente, uma nova percepção e posição com relação ao mundo. Como diz Jerry Seinfeld: "Não preciso de mais ninguém! Agora eu faço minhas próprias pessoas!"

Eu e a Meire nos casamos muito novos e a Natália foi gerada em nossa lua de mel, graças ao método anticoncepcional que nos foi ensinado pelo padre Berardo. Quem manda confiar em um cara que fica citando a frase "crescei e multiplicai-vos". Não entendíamos nada dessa coisa de filhos e decidimos nos munir de literatura. A Meire nunca terminou de ler o "Meu Filho, Meu Tesouro", do Dr. Benjamin Spock, porque achava que vulcanos não estavam devidamente gabaritados para escrever sobre crianças terrenas. O Bruno Bettelheim, autor de "Uma vida para seu filho", suicidou-se. Desistimos da literatura e passamos a confiar em nosso próprio taco. Entre trancos e barrancos, deu certo.

Desde pequena a Natália tinha talento para a medicina. Ainda que também tivesse talento para a música e a experimentação culinária. Antes de apaixonar-se pelo sushi ela já havia comido aranhas e lesmas cruas sem fazer cara feia. Mas foi, sem dúvida alguma, a influência paterna que falou mais alto na decisão final por sua carreira. Eu havia feito o curso de primeiros socorros do SENAC ainda na oitava série do primário, o que me qualifica como o único profissional da área da saúde em minha família. Além disso, tenho enorme experiência prática em autodiagnóstico e automedicação. Já encomendei, do Deal Extreme, um kit para o autoexame de próstata. Está para chegar!

A Natália tinha uns seis ou sete anos quando demos para ela um boneco ET no qual era possível fazer uma autópsia. Isso foi bem antes da moda do politicamente correto. Na minha memória, esse foi um dos brinquedos que ela mais gostou. Minha memória anda falhando, mas a Natália preferiu a Pediatria como especialidade ao invés de Geriatria, o que seria muito mais útil em minha situação.

A estrada não foi só asfaltada e florida. Lembro de ter discutido pesadamente com minha filha quando ela abandonou o curso de Engenharia de Bioprocessos depois de ter cursado dois anos. Sei que isso a magoou bastante e eu só posso dizer que, se não tenho como rebobinar o passado e desdizer muito do que eu disse (e fiz) posso, ao menos, assumir publicamente que ela estava mais do que certa e tomou a decisão correta. Acho bom não podermos rebobinar o passado. Somos a soma dos nossos erros e acertos e a perfeição não foi projetada para ser atingida, apenas buscada.

Eu sempre cito uma frase do filme Love Story (além de várias do Pequeno Príncipe): "Amar é não ter que pedir perdão". Talvez eu até abuse desta frase. Hoje eu quero dizer para a minha filha Natália que eu errei um bocado com ela. Em vários momentos fui menos pai e mais um irmão mais velho chato e birrento. Mas nerd, prático e metódico como sou eu tenho que reconhecer que o resultado está sendo excelente e que estou feliz demais com mais essa conquista, a mais importante da vida dela até agora. Por isso, falo diretamente para ela agora: Filha, perdão pelo mau jeito e trapalhadas do teu pai! Te amo muito, muito, muito!

E vamos para os festejos!

PS - Um grande beijo para o meu genro Luiz Artur Cesar Portella, que também forma-se em medicina junto com a Natália Pereira Brod. Luiz, é uma honra te ter em nossa família e obrigado por ter tornado os Portellas uma parte integral dos Brods e dos Pereiras!

Leia mais:

O crepúsculo de Natália

Sobre o autor

Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.

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