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Por Cesar Brod
Data de Publicação: 20 de Dezembro de 2013
O termo DIY (Do It Yourself, literalmente faça você mesmo) nunca esteve tão popular entre os hobbistas de tudo. Isso graças, em grande parte, à popularização de projetos com o Arduino, o Makey-Makey e outros. Uma pequena busca no Google pelo termo DIY, seguido por qualquer coisa (tente Coca-Cola, por exemplo), já é um exercício para a imaginação e a criatividade. Comece pela receita DIY fornecida por alguém e transforme-a a seu bel prazer, da mesma forma como é possível fazer isso com qualquer tecnologia livre e aberta.
É nessa linha que a Carolyn Fox, blogueira do portal Opensource.com, escreveu um artigo, no início deste ano, que cai como uma luva para um projeto que tenho para 2014: retomar ações que envolvam pais e filhos na construção de qualquer tipo de coisa com tecnologias livres. O incentivo para isso veio do sucesso, muito além do esperado, de meu livro Aprenda a Programar - a arte de ensinar o computador e de um papo com a Joice Käfer no qual lembramos das oficinas de pandorgas, aviões de papel e rádios de galena que promovíamos através do grupo Gnurias. Quem sabe não é essa a oportunidade de revivermos esse grupo? #ficaadica
A Carolyn e o pessoal bacana do Opensource.com permitiram que eu traduzisse o artigo que ela escreveu para o português. Sem mais delongas, aqui está ele:
Minha resolução de ano novo foi incentivar uma educação mais aberta em casa, unindo-me a uma subcultura social crescente. A princípio, comecei a substituir alguns produtos comerciais domésticos, como pasta de dente, por alternativas de "código aberto". Afinal, não há patentes ou marcas registradas para bicarbonato de sódio (2/3 de um copo), sal (quatro colheres de chá), óleo de menta (uma colher de sopa) ou óleo de coco (duas a três colheres de sopa) - tudo o que você precisa para fazer uma pasta de dente caseira. Todos estes componentes são fáceis de ser encontrados, talvez com a exceção do óleo de menta (que você pode substituir por extrato de canela, baunilha, ou outros que você possa imaginar com sua criatividade e mente aberta).
Munida dos ingredientes necessários para fazer a minha própria pasta de dente, consumi menos tempo para fazê-la do que o que o que costumo gastar na fila do supermercado para comprar sua equivalente comercial. Além disso, o valor gasto foi menor. E minha pasta de dente não tinha flúor, preservativos ou outras substâncias químicas danosas que causam danos à saúde.
Praticamente todas as pessoas usam algum tipo de pasta de dente todos os dias, mas quantos de nós questionamos a futilidade de uma marca comercial para algo que nós mesmos podemos fazer, usando o conceito de código aberto? Quantos de nós queremos ver nossos filhos entusiasmados com matemática, ciências e história, ou viver uma vida mais simples, ecologicamente correta e saudável ao fazermos nossa própria pasta de dente?
Além disso, fazer a sua própria pasta de dente, xampu ou mesmo sabão em pó não requer nenhuma habilidade especial. Não é algo trabalhoso ou que consuma muito tempo e nem exige um processo misterioso.
Quando comecei a descobrir o movimento faça você mesmo (DIY), fiquei um tanto intrigada e perplexa - até que fiz a analogia com o movimento de código aberto. Percebi que esse movimento era a ampliação ou extensão do movimento de código aberto e uma maneira de superar uma crise na educação. E não estou sozinha nesse meu raciocínio. Em setembro de 2012, um jornalista de tecnologia da BBC News escreveu sobre a revolução prevista por Karl Marx, mas Marx não poderia imaginar que ela seria possível graças a uma brigada do movimento faça você mesmo. Sem a tecnologia digital é verdade que tais esforços seriam pequenos, mas com ela, este movimento está criando fortes raízes.
O tempo irá dizer o quanto este movimento afetará o mundo de código aberto, gerar questionamentos que virão a partir da percepção de que você pode dispensar um produto comercial e caro em favor de algo que você mesmo pode fazer e influenciar gerações futuras com essas ideias. Agora mesmo há sites para crianças, como o DIY.org, que estão em franca expansão. Sites desse tipo apostam que as crianças estão mais envolvidas com tecnologia digital em idades muito mais tenras do que as gerações anteriores e posicionam-se como lugares onde as crianças podem imaginar, construir, hackear, crescer e adquirir habilidades - uma versão digital e atualizada do movimento escotista. Há planos futuros para assinaturas e opções para que as crianças vendam as suas invenções (coisas que podem não ter passado pela cabeça de Marx, ou de Robert Baden-Powell, fundador do movimento escotista).
DIY.org é livre e está aberto para crianças a partir dos sete anos de idade, ainda que pareça ser, principalmente, direcionado a meninos. Uma boa coisa é que a manufatura de pasta de dente é, ao contrário, universal e neutra em termos de gênero. Talvez, essa seja uma forma alternativa de envolver as meninas em ciência, tecnologia, engenharia e matemática... E código aberto! Até o momento, porém, a tecnologia digital e todo o tipo de manipulação criativa que envolve coisas do tipo DIY tendem a focar-se, inicialmente, nos garotos.
Mais do que isso, penso que as meninas estarão mais prontamente interessadas em criar coisas novas se elas forem incentivadas, inicialmente, em algo como fazer a sua própria pasta de dente. Isso incentivaria um sentimento de poder, autonomia e empreendedorismo. (Leia os pensamentos de Wendy Priesnitz sobre o sucesso econômico, que questiona a tradição de bem estar baseada apenas no aspecto financeiro).
Em resumo, permitir que as crianças façam a sua própria pasta e dente não só é um princípio de economia e autoconfiança, mas também um ato um tanto subversivo.
Terminou a tradução! E você, o que vai fazer para mudar o mundo a partir de 2014. A Dobro Comunicação, uma empresa aqui de Lajeado da qual minha mulher e minha filha do meio são sócias, decidiu pintar um quadro-negro em um muro onde as pessoas poderão escrever sobre suas ações para o ano novo. A BrodTec, inspirada na ideia, resolveu criar uma versão online desse muro. Deixa a tua ideia lá! Quem sabe descobrimos boas coisas para desenvolvermos juntos!
Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.
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