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Por Cesar Brod
Data de Publicação: 04 de Fevereiro de 2014
Lá no início do século, quando participei da organização dos primeiros fóruns internacionais de software livre, escrevi alguns artigos que foram publicados no portal do evento. Um deles tinha o mesmo título desse aqui e contava a história de um pequeno software que eu havia escrito e do qual eu nunca mais tive notícias. Graças a algumas anotações que encontrei agora e com a ajuda - ou o contrário! - de minha memória, tento reproduzir, aqui, o artigo original que, como o software, também se perdeu. Vida longa aos permalinks!
Em 1988 eu estudava Física na UFRGS em Porto Alegre, o primeiro curso superior que não conclui (na segunda Universidade, comecei este mesmo curso na USP, em São Paulo) e, por diletantismo, eu estudava inteligência artificial e sistemas especialistas. Eu tinha um computador MSX, que entre suas várias peculiaridades, era capaz de endereçar 64 Kbytes de memória, 32 Kbytes por vez.
Um dos programas-exemplo que estudei simulava um "psicólogo" conversando com o usuário e tentando, através do reconhecimento de uma lista de palavras-chave, mudar de assunto e fazer perguntas "surpreendentes". O programa estava em um livro em espanhol e era escrito em Basic. Ele era baseado no popular Eliza, que se fazia passar por uma terapeuta Rogeriana (aquelas que fazem você falar de você mesmo). O Eliza original foi escrito no MIT por Joseph Weizenbaum nos anos 1960. Se você quiser ter um gostinho do programa, há versões web para ele.
Decidi tornar o programa mais interessante transformando em um analista Freudiano, mais especificamente em um Freudiano da região da fronteira gaúcha, o Analista de Bagé. Ele simulava uma conexão com o consultório do analista, o atendimento inicial pela recepcionista Lindaura (que pedia pra aguardar um pouquinho enquanto o analista terminava a consulta com outro paciente). O uso de certas palavras-chave iam levando a conversa, invariavelmente, à relação que o consulente tinha com a mãe. O diagnóstico da "loucura" ou "faceirice" do "bagual" era sempre "um causo de Édipo".
Na época, eu prestava serviços para o Banco do Brasil, em Porto Alegre, que havia recentemente adquirido microcomputadores cujo formato de gravação em disquete era o mesmo que o meu MSX. Assim, reescrevi o programa para que o mesmo código pudesse ser executado em MSX-Basic (minha máquina) e Mbasic (as máquinas do Banco do Brasil). Isto garantiu-me uma quantidade de usuários que, nas horas vagas (ao menos acho que eram horas vagas), podiam brincar com o meu programa e contribuir com sugestões.
O programa passou a armazenar a conversa dos usuários e apontar palavras mais usadas, que passaram a ser usadas como palavras-chave em novas versões. Nas últimas versões ele era capaz de armazenar declarações do consulente que continham algumas palavras-chave, lembrar delas e fazer perguntas com base nas mesmas. Por exemplo: se o consulente digitasse "Não convivo bem com minha família", a palavra "família" era uma das palavras-chave e o verbo "conviver" estava na lista de conjugações. Assim, mais adiante o "analista" poderia perguntar algo do tipo "Antes disseste que não convives bem com tua família, explica melhor...". Esta utilização de elementos que eram inseridos pelo próprio consulente, junto a cenários que poderiam vir à tona aleatoriamente ou através do reconhecimento de palavras-chave tornou o sistema bastante interessante, um brinquedo agradável. Como me apropriei indevidamente do nome "Analista de Bagé", eu distribuía o programa em disquete, com instruções, código-fonte e recomendações para que o usuário comprasse a obra do escritor Luís Fernando Veríssimo, na esperança de nunca ser processado por ele.
O tempo passou, perdi contato com as pessoas que trabalhavam comigo na época, e, infelizmente, a última cópia que eu tinha do programa foi doada por descuido junto com o meu MSX em um disquete que foi formatado e aproveitado para alguma outra coisa.
Alguém (não lembro quem!) me disse que o programa chegou a rodar em uma implementação de BASIC para o ambiente /370 da IBM, por volta de 1992 e que o mesmo podia ser acessado através de terminais 3270. Não consegui confirmar a veracidade desse fato.
De qualquer forma, nunca mais tive acesso ao programa que, um dia e com tempo, espero reescrever, quem sabe em PHP ou Python. Se alguém tiver alguma notícia desse software livre perdido, por favor, manifeste-se nos comentários.
Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.
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