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por Valéria Barros
Data de Publicação: 08 de Março de 2015
A primeira vez que tive uma palestra aprovada em um grande evento, minhas pernas tremeram. Fui subitamente tomada por uma síndrome do impostor e precisei de muito apoio para finalmente entender que era capaz.
Mas não era disso que tinha medo.
É sabido que a maioria dos eventos de tecnologia tem um público masculino desproporcional ao feminino — e não irei entrar nessa discussão. Você deve saber o porquê.
Quando recebi a resposta, não tinha medo de falar. Meus pesadelos se baseavam em entrar em uma sala recheada de homens. Mais que isso: meu pesadelo era imaginar que, por mais que dominasse o assunto, poucos iriam se preocupar com o que dizia — iriam olhar para minhas pernas.
Meu maior medo era que dissessem — como já ouvi antes — que só estava ali por ser mulher. Tive medo de ser verdade.
Durante toda a vida, precisei provar meu valor duas vezes. Uma por ser pobre e precisar dar tudo de mim para chegar à algum lugar. Outra pela dúvida que muitos tinham sobre a minha capacidade como programadora pelo único fato de ser mulher — como se meus cromossomos estivessem diretamente ligados a minha capacidade lógica.
Não foi a primeira vez que tive medo, e não me orgulho em dizer — perdi muitas chances de crescer por estar presa a isso.
Hoje, finalmente sinto-me mais preparada para enfrentar qualquer público — independente do gênero. Mas não sem antes ter crises profissionais e pessoais.
Ainda sim, lutando diariamente pelo empoderamento, as vezes dói. Quando vejo uma piada desmerecendo o legado que muitas construíram antes de mim. Dói quando levantamos nossas vozes contra o machismo e lemos ofensas por todos os lados. Não ofensas ideológicas — mas pessoais.
Dói saber que não sou a única — e que existem milhares de casos piores. Mulheres que são ameaçadas de morte, perseguidas virtualmente, assediadas no trabalho ou violentadas por ter voz.
Quando comecei a estudar TI, sabia que não seria fácil (se para mim não foi, imagino como era para minhas antecessoras). Mas não imaginava que seria tão difícil, ultrajante e desesperador.
A falta de empatia da maioria na sociedade é estarrecedora, pois achamos que o mundo é o que está em nossa bolha.
Fico feliz se, em sua realidade, as mulheres são respeitadas pelas profissionais que são. Mas te conto um segredo: a maioria não é. Grande parte ainda precisa lutar com unhas e dentes, duas vezes mais, para ser valorizada enquanto profissional.
Te desafio a olhar um pouco fora da sua caixa. Te desafio a perguntar o que dói no outro. Te desafio a olhar para si e lembrar de um dos belos mandamentos bíblicos — amar ao próximo como a você mesmo.
E então — não apenas no dia das mulheres, como em todos os outros — em vez de flores, ofereça sua voz. Ofereça seus braços para lutar em conjunto.
Nos ajude a criar um mundo melhor para nós, para seus filhos e os filhos alheios. Nos ajude a incentivar as mulheres a se erguerem, e gritar sempre que algo doer.
Não aceite de olhos baixos quando alguém disser que você não pode ou quando duvidarem da sua capacidade. Mesmo que doa, mantenha os olhos firmes, a postura ereta e a voz alta: Eles precisam nos ouvir.
Não será fácil, mas vocês não estão sozinh@s.
Cesar Brod usa Linux desde antes do kernel atingir a versão 1.0. Dissemina o uso (e usa) métodos ágeis antes deles ganharem esse nome. Ainda assim, não está extinto! Escritor, consultor, pai e avô, tem como seu princípio fundamental a liberdade ampla, total e irrestrita, em especial a do conhecimento.
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