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Essa Coca é Fanta!

Por Carlos Nepomuceno

Data de Publicação: 19 de Abril de 2007

Hoje, debaixo do guarda-chuva da Web 2.0 cabe tudo, até elefante de sunga, tomando banho de baldinho.

Vamos, portanto, separar o teclado do mouse.

Primeiro, o que a Web 2.0 traz de verdadeiramente novo e diferente?

  1. A possibilidade de uma comunidade de usuário criar e modificar diretamente o conteúdo dos websites.

    O que nos leva à segunda grande mudança:

  2. o gestor de conteúdo, informação, ou seja lá o nome que tenha, muda de lugar, de prover conteúdo, passa a gerir comunidades, que tomam o seu antigo posto.

    Essa é a grande mudança, o resto é lança-perfume.

As mudanças atendem a um requisito fundamental dos nossos tempos de muita informação e pouca atenção:

  1. é preciso aumentar a velocidade para a geração de informações em áreas cada vez mais mutantes;

  2. não existe, no modelo clássico, a possibilidade de uma pessoa, ou uma pequena equipe, conseguir ser rápido, amplo e preciso como milhares o são;

Ou seja, a produção coletiva não vem para criar problemas, mas solucionar os que estão aí sem solução.

Assim, temos agora um novo ambiente comunicacional informacional disponível para resolver diversas questões.

Antes, em função das tecnológicas disponíveis, era preciso um carimbador- oficial de cada website: isso entra, aquilo não.

Havia um "porteiro", pedindo carteirinha de conteúdo na porta, o que tornava o site pesado para algumas demandas.

Agora não.

Nos sites Web 2.0 puros e sem gelo, a grande marca é a demissão do porteiro para ganhar rapidez.

O usuário não precisa mais passar mais pela portaria. Entra pela janela, teto, do chão, etc....

O novo "ex-porteiro" administra a comunidade, ajuda nas regras, nas ferramentas de regulação da massa, incentiva, acompanha alguns conteúdos críticos.

Mas é muito mais um animador comunicacional e informacional, do que um gestor de conteúdo e informação clássico.

(Nós chamamos o novo profissional de gestor de comunidades com o apelido de apicultor de colméias. Ver mais detalhes no nosso livro "Conhecimento em Rede", da Campus, meu e de Marcos Cavalcanti.)

Um website com comentários, notas, etc...é algo bacana interativo, mas não é Web 2.0. Ou seja, resolve alguns problemas, mas não os que a sociedade impõe cada vez mais: velocidade com qualidade.

Nesses websites 1.0 o porteiro continua lá, com o poder de decidir o que entra e o que não entra. Permite-se comentários, dar notas, mas o filé mignon quem coloca no balcão é ele, o que torna a informação pouco vibrante, estática e, portanto, atualmente, em muitos casos, sem valor.

Ou seja, a Web 2.0 veio para produzir de forma dinâmica um novo processo de gerar informação, que só funciona com comunidade interagindo e criando inteligência coletiva.

Dito isso, vamos ao segundo ponto.

Não existe um tipo só de site colaborativo de massa 2.0. Existem vários modelos, mas com apenas duas vertentes, até agora, claramente identificadas.

Vejamos a tabela:

Tipo de site "sem porteiro" no conceito Web 2.0 Característica
O usuário inclui conteúdo. mas não altera o conteúdo alheio Comentam, dão nota, etc, mas não mexem naquilo que o outro postou. (Ex: YouTube, Orkut, Fotolog blogs individuais).
O usuário inclui conteúdo, mas altera o conteúdo alheio Comentam, dão nota, etc, e podem mexer naquilo que o outro postou. (Ex:Wikipedia, blogs coletivos).|

Notem que são duas possibilidades que vão se encaixar, conforme cada necessidade. Não é que uma é melhor do que outra, mas atendem a demandas distintas. E para cada uma delas exige-se um tipo de gestão.

Dentro de cada uma existem variantes, vejamos:

O usuário inclui, mas não altera o conteúdo alheio, com direito, entretanto, a comentário ou dar notas. Ou sem direito a comentário, dando nota. Ou dando nota sem direito a comentário, etc.

O usuário inclui e pode alterar o conteúdo alheio, mas sem direito, entretanto, a comentário ou dar notas. Ou com direito a comentário, dando nota. Ou dando nota sem direito a comentário, etc.

O grande desafio agora é, diante destes modelos, responder:

  1. qual é o melhor modelo web 2.0, dentro dos meus objetivos, para que eu possa ganhar agilidade?

  2. como criar uma gestão nesse modelo para que consiga separar adequadamente o lixo da qualidade?

  3. que tipo de profissional preciso? E com que formação?

  4. E quais ferramentas disponho hoje para atingir essas metas?

(Vou deixar estas questões no ar para responder nos novos artigos.)

Destaquemos, porém, agora, que para administrar projetos da web 1.0, no qual tínhamos o porteiro, já temos todas as ferramentas, livros, profissionais adequados para exercer a função.

O problema ao misturar sites 1.0 com os 2.0 é de que temos a tendência de encaixar as antigas metodologias e profissionais não preparados para administrar um novo modelo, com risco enorme de fracasso.

Assim, se vamos querer ganhar as facilidades e benefícios da nova etapa da rede, é preciso compreender exatamente o que é novo e o que ainda está no modelo anterior, útil ainda para diversos problemas..

É novo tudo que não tem porteiro. Não é novo: os projetos com porteiro.

A partir disso, temos caminhos bem distintos a tomar.

Portanto, se alguém chegar para você para apresentar e pedir a opinião do que você está achando do novo-mega-super-inovador-show-de-bola projeto Web 2.0, sugiro dê uma olhada na entrada da boate do website do cidadão.

Se tiver porteiro carimbando convites, pode dizer sem susto:

Meu irmão, essa Coca é Fanta!

Sobre o autor

Carlos Nepomuceno é Doutorando em Ciência da Informação pela Universidade Federal Fluminense é consultor e jornalista especializado em Tecnologia (Informática e Internet), com larga experiência em projetos nestas áreas. Foi um dos primeiros webmasters do Brasil. Atualmente, presta consultoria permanente para as seguintes instituições: Petrobras, IBAM e Sebrae-RJ. É professor do MBA de Gestão de Conhecimento do CRIE/Coppe/UFRJ, com a cadeira "Inteligência Coletiva" e coordenador do ICO - Instituto de Inteligência Coletiva.

É autor, com Marcos Cavalcanti, do livro O Conhecimento em Rede Publicado pela Campus/Elsevier, é o primeiro livro no Brasil a discutir a WEB 2.0, a levantar paradigmas quanto à inteligência coletiva e a mostrar, na prática, como implantar projetos desta natureza. O livro trata desta nova revolução cultural, social e tecnológica a que todos estamos expostos.

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