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Como idéias e produtos se propagam em rede

Por Carlos Nepomuceno

Data de Publicação: 27 de Abril de 2007

É comum se divagar por aí que Linus Torvald - ideólogo e pai do Linux - poderia hoje estar rico se tivesse montado uma empresa e colocado no mercado o "seu" (Linuxistas de plantão: prestem atenção nas aspas) sistema operacional, ao invés de desenvolvê-lo cooperativamente e oferecê-lo de graça na Internet.

As especulações até que poderiam fazer sentido, se partíssemos da premissa com a qual estamos acostumados a pensar o mundo dos negócios:

Idéia --> Produto --> Empresa --> Preço --> Consumidor

Se analisarmos, entretanto, a história dos processos de inovação de software e serviços na (e para) a Web, constataremos uma nova dinâmica.

Desde o hipertexto, Netscape, ICQ, Linux, Apache, Wikipedia, MP3, Emule, Orkut, Skype - para citar alguns produtos que mudaram a rede e, parcialmente, a sociedade - percebemos uma nova lógica:

Idéia --> Produto ou Serviço Grátis --> Rede --> Consumidor

Não conheço nenhum projeto que tenha atingido a escala global que tenha fugido dessa rota.

Dito isso, é interessante analisar como determinadas idéias - vindas de visionários dos cantos mais insólitos do planeta - se multiplicam e ganham a rede em escala mundial.

Os estudos acadêmicos sobre a presença do ser humano em rede - eletrônica ou não - demonstram, contra o senso comum, que a tendência é de que gradualmente , apesar das diversas opções, selecionemos centros de referência prioritários.

O que explica o fato de, apesar do usuário ter na Internet a liberdade de acessar milhões de endereços, as visitas se concentram em apenas centena deles.

Se isso vale para sites, acontece também com as pessoas no ambiente Web.

Alguns tem mais capacidade de influência do que outros em alguns temas ou assuntos, como já ocorre, na verdade, na vida cotidiana.

São os anéis, ou hubs, por onde escorre o fluxo da informação.

Assim, se fôssemos aperfeiçoar o estudo dessa nova lógica da criação de produtos, teríamos a seguinte dinâmica na rota de inovação na rede para a rede:

Idéia --> Produto Grátis --> Rede --> Multiplicadores --> Consumidor

O multiplicador formal (revistas e sites especializados, colunistas, etc) e o informal (blogs, comunidades, etc) são os filtros e conectores daquilo que será, ou não, interessante para os demais.

O multiplicador, geralmente, é articulado em comunidades em rede e mantém canais diferenciados com toda a cadeia, explicando, portanto, a velocidade e o alcance da difusão do boca-a-boca.

Podemos, se quisermos, dar um zoom no início desse processo, no exato momento da entrada de um determinado produto ou serviço na rede, teríamos o seguinte processo:

Idéia > Produto Grátis --> Rede --> (Multiplicador) --> muito curioso e especialista de plantão --> menos especialista e menos curioso> eu topo novidades, mas sou quase leigo --> eu só topo o que for mastigado e sou muito leigo --> (Consumidor).

Esse processo seria no gráfico da rede algo assim, obviamente não de forma tão esquemática, pois os pontos podem se entrelaçar, mas valeria para efeito de regularidade de constância:

Verde - muito curioso e especialista de plantão, Amarelo - menos especialista e menos curioso, Laranja - eu topo novidades, mas sou quase leigo, Azul - eu só topo o que for mastigado e sou muito leigo

Diante disso, produtos em rede para a rede só tem chance de prosperar nessa dinâmica do chamado marketing viral se for aderente às regras e demandas dessa recente net-ecologia.

Foi esse novo cenário e paradigma que obrigou Bill Gates a lançar, na década de 90, o Internet Explorer, primeiro produto grátis na história da Microsoft, para poder competir com o Netscape, seguido depois de vários outros como o Windows Media Player, Outlook, etc.

E tem mudado a maneira de se pensar negócios para produtos intangíveis, aqueles que podem circular na Net.

Portanto, para acabar com a polêmica criada sobre a não riqueza Microsofitiniana de Linus Torvald diria o seguinte:

Se ao invés de optar por desenvolver o proejeto coletivamente na rede, ele aplicasse a mesma lógica empresarial pré-Internet, seria com certeza, apenas mais um maluco anônimo, que teve uma bela idéia fracassada de um sistema operacional interessante, mas inviável, num inverno frio e sem namorada na Finlândia.

E nada mais.

Sobre o autor

Carlos Nepomuceno é Doutorando em Ciência da Informação pela Universidade Federal Fluminense é consultor e jornalista especializado em Tecnologia (Informática e Internet), com larga experiência em projetos nestas áreas. Foi um dos primeiros webmasters do Brasil. Atualmente, presta consultoria permanente para as seguintes instituições: Petrobras, IBAM e Sebrae-RJ. É professor do MBA de Gestão de Conhecimento do CRIE/Coppe/UFRJ, com a cadeira "Inteligência Coletiva" e coordenador do ICO - Instituto de Inteligência Coletiva.

É autor, com Marcos Cavalcanti, do livro O Conhecimento em Rede Publicado pela Campus/Elsevier, é o primeiro livro no Brasil a discutir a WEB 2.0, a levantar paradigmas quanto à inteligência coletiva e a mostrar, na prática, como implantar projetos desta natureza. O livro trata desta nova revolução cultural, social e tecnológica a que todos estamos expostos.

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