você está aqui: Home  → Conhecimento em Rede

Apertem os cintos, minha comunidade sumiu!

Por Carlos Nepomuceno

Data de Publicação: 25 de Junho de 2007

A descentralização aponta a tendência de diminuir gradualmente o poder que sites como Orkut e MySpace vão ganhando na sociedade e na vida das pessoas.

Recebi surpreso o seguinte relato da cineasta e produtora cultural Janice Laurenti:

Somos produtoras culturais e desenvolvemos vários projetos neste segmento de arte e cultura (...) Desde maio de 2005 ao conhecermos a plataforma do Orkut, vimos a possibilidade de reunir os profissionais artistas, produtores, financiadores / investidores e acadêmicos dos segmentos culturais. Criamos então a comunidade "Diversidade Cultural". Com o tempo, começamos a crescer em número e em interação. Devido as inúmeras colaborações dos membros e para organização dos tópicos ali postados, criamos uma ferramenta de jornal eletrônico de nome " e-flash cultural" que reunia todas as participações dos setores diversos. No último número já eram 2500 leitores (dois mil e quinhentos) em dezembro de 2006.
Infelizmente, ainda em 2006 aumentou a onda de "spammers", através do envio de "floods". A maioria dessas informações recebidas nos perfis era de cunho grosseiro que oferecia desde remédios pela Internet, sexo virtual, filmes pornográficos e inúmeros produtos de qualidade duvidosa. Essas mensagens, para nós, foram um "alerta". Percebemos que estávamos num local desprotegido e que ali tudo seria possível. Nem imaginávamos que o pior ainda aconteceria à nossa comunidade.
(...) neste ano de 2007, ainda em processo de construção da plataforma base do Banco Cultural, fomos surpreendidas ao constatarmos que as nossas comunidades do orkut foram roubadas. (grifo nosso) A pessoa responsável pela ação parecia desconhecer o próprio poder de interceptação. Depois de muito argumentar com o suposto ladrão, duas comunidades profissionais e muito ativas sumiram. Seis mil membros em uma, duzentos na outra. Desespero total da parte da equipe e membros. Dois anos de trabalho de construção, com muito esforço se foram num simples DELETAR de um botão de um sociopata.
A orientação que tivemos partiu de outros usuários e não da equipe do Orkut. Uma comunidade de nome "Super Liga de Moderadores" nos orientou em como entrar em contato com a equipe do Orkut, que não é fácil. Orientou também em como achar o link certo para ativar a equipe, outra coisa que não foi fácil de achar. E finalmente nos disse para "provar" que as comunidades eram nossas. Apenas robôs entraram em contato conosco de forma automática sempre em respostas aos nossos e-mails de reclamação. Se não fossem esses "super moderadores" temos certeza que o nosso trabalho estaria perdido e com ele todos os contatos. Depois de tanta tristeza e insistência as comunidades voltaram, contudo o nosso desconforto permanece.
O Orkut, enquanto rede de relacionamento é interessante e funciona realmente. Contudo, confiar nesta plataforma para projetos profissionais e de pesquisas através das "comunidades" daí já se torna algo a se pensar.
(...) Mas uma vez ressaltamos a nossa alegria em participar inserindo em nossa plataforma o ICOX.
(...) Temos a pretensão de inaugurar o nosso Portal Banco Cultural e em destaque o canal TEAR - Coletivo Inteligente de Cultura em setembro próximo no 2º Salon du Brésil à Paris - Mostra Brasileira de Marcas, Produtos e Serviços".

A notícia, na verdade, faz parte de um cenário que imaginávamos quando começamos o projeto ICOX: não podemos deixar que as comunidades fiquem à mercê de um determinado ambiente, no qual não se tem controle.

Nada contra o Orkut, o Google, mas apenas ao conceito e ao modelo: a rede, por natureza, pede descentralização.

Nossa idéia foi de criar um software livre para montar redes de relacionamento caminhava nessa direção e muito nos alegrou termos agora uma alternativa gratuita para a Janice.

Entretanto, o ICOX tinha uma grande falha. Se cada um instalar um programa, como a Janice poderá compartilhar os blogs e fóruns de sua comunidade com outros de cultura?

Começamos a bater cabeça, até chegar na idéia da Rede ICOX que, finalmente, podemos informar que saiu do papel.

A versão 2.0.1 do ICOX conseguiu colocar em ação uma ferramenta que permite criar uma rede entre os vários ICOXs instalados em servidores diferentes que conseguem se "enxergar", abrindo assim a possibilidade de sites de relacionamento sem a necessidade de um portal central.

Calma, ainda está precária, incipiente, mas o que vale aqui, antes de tudo, é o conceito, se começamos a fazer, basta agora esforço de todos nós - em sendo livre - para fazê-la cada vez melhor e poderosa.

É a descentralização, na prática, e ainda embrionária, apontando uma tendência futura, de diminuir gradualmente o poder que sites como o Orkut e MySpace vão ganhando na sociedade e na vida das pessoas.

Informamos ainda que a versão 2.0.1 do ICOX ainda traz como novidades os módulos de Chat, enquete e o que passamos a chamar de Núcleo duro, que é a possibilidade de publicação de vários formatos de arquivos, como vídeos, fotos, áudios, bibliografias, links, etc.

Além disso, a ferramenta já traz uma primeira versão de um tradutor do programa para outros idiomas e uma revisão completa no layout, a partir da experiência do projeto com a Infoglobo, o Globoonliners - site de comunidades do Globo on-line, que já está no ar há mais de dois meses.

Temos ainda outro projeto de sucesso: o Orkuff, site de relacionamento da UFF (Universidade Federal Fluminense), que no nome mostra que o poder centralizador do Orkut começa a ser questionado na prática.

O ICOX já foi baixado por mais de 1400 instituições, é coordenado pela ICO, entidade sem fins lucrativos.

O software conta com o apoio financeiro da Fundação Carlos Chagas de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP, através do Programa Rio Inovação. Recebe ainda recursos da Infoglobo, que investiu no produto e as melhorias estão sendo disponibilizadas em rede.

Outras intituições estão estudando ir pelo mesmo caminho.

Que sejam bem-vindas!

Sobre o autor

Carlos Nepomuceno é Doutorando em Ciência da Informação pela Universidade Federal Fluminense é consultor e jornalista especializado em Tecnologia (Informática e Internet), com larga experiência em projetos nestas áreas. Foi um dos primeiros webmasters do Brasil. Atualmente, presta consultoria permanente para as seguintes instituições: Petrobras, IBAM e Sebrae-RJ. É professor do MBA de Gestão de Conhecimento do CRIE/Coppe/UFRJ, com a cadeira "Inteligência Coletiva" e coordenador do ICO - Instituto de Inteligência Coletiva.

É autor, com Marcos Cavalcanti, do livro O Conhecimento em Rede Publicado pela Campus/Elsevier, é o primeiro livro no Brasil a discutir a WEB 2.0, a levantar paradigmas quanto à inteligência coletiva e a mostrar, na prática, como implantar projetos desta natureza. O livro trata desta nova revolução cultural, social e tecnológica a que todos estamos expostos.

Recomende este artigo nas redes sociais

 

 

Veja a relação completa dos artigos desta coluna