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Por Carlos Nepomuceno
Data de Publicação: 02 de Julho de 2009
Toda a banda larga é inútil, se a mente for estreita - José Otávio, da minha coleção de frases
Ah, meus 100 leitores ... que dura é a vida de um blogueiro opinativo não-midiático ...
Por que eu ainda escrevo e vocês?
Pior, insistem em me visitar - e até comentar - nessa esquina perdida da rede?
Quanto mais eu leio e vejo os maiores absurdos, mais eu penso em vocês, amigos virtuais de jornada inglória.
Me apoiem, me incentivem, que já ando pensando em viver off-line em alguma serra perdida, movida à luz de vela.
Lá, onde meu único carregador será um jegue sem fio.
Lá, na minha casa de campo, com direito à estátua do Zé Rodrix no jardim, na qual a única pseudo-antena apontada para o céu será minha vara de pescar.
Pacientes leitores, que me escutam e sabem o quanto eu tenho aqui com meu pitbull de plantão, latido nas madrugadas contra o excesso de barulho e desatenção generalizada, que tem invadido esse já-ex-neo-utópico-sonho-do-socialismo-on-line.
Sim, só o humor constrói.
Agora, vem o caso do blog da Petrobras.
Antes de tudo, aliás, de cara, de sem-pulo:
Viva o Blog da Petrobras!!!
Quando todo mundo deveria estar batendo palma em pé para a primeira empresa do Governo, que cria um site colaborativo, mais dinâmico e permite comentários, ao contrário, leva tiro de todo os lados.
Claro, que houve erros iniciais no processo.
E erros continuam, mas vamos separar o óleo do petróleo.
O pré-sal da pimenta, antes que joguem o bebê e a água plataforma abaixo.
O Presidente da Petrobras já disse ao Valor, de quinta, dia 10/06, que não colocará no blog as perguntas que o jornalista pedirem sigilo.
Ok, muito bom, parabéns!
à simpático, educado e de bom tom, pois não se divulga o trabalho alheio sem permissão.
(Detalhe, no novo mundo Web é o jornalista agora que tem que dizer baixinho: Mermão, é off-the-blog-records, ok!) :)
Tudo certo, isso se ajeita.
Teve também um filósofo, que disse ao Globo, no dia 10/06, que a Petrobras está praticando no blog **"Terrorismo de Estado".
Recomendo mandá-lo para Palestina em temporada de bombardeio para separar o mÃssel da missiva.
No fundo da polêmica, lá no âmago, há uma revolta contra a perda de poder da mÃdia. E um espanto, uma falta de informação, diante das novas possibilidades que a rede permite.
A mÃdia hoje tem sido obrigada a tirar, com abridor de latas, a armadura pesada que ganhou, a partir de 1450, com o surgimento da prensa do Gutemberg.
O jornal em papel é mono, a rede é polifônica.
O jornal de papel é estéril, a rede é, no mÃnimo, estéreo.
Toda a empresa, principalmente do Governo, deve, deveria e deverá prestar conta direta a seus consumidores.
Seria bom, seria ótimo!
Atendê-lo em todas as suas dúvidas, pois em última instância são os micro-patrões, pedindo satisfações.
Isso deve ser saudado e não questionado.
E mais: os consumidores estão ganhando o direito de saber o que os outros consumidores perguntaram e o que a empresa respondeu a eles.
(AlÃas, esse é o novo direito humano de expressão e acesso à informação, que surge com a rede: leitor sabe o que o outro leitor reclamou, vide Amazon. Vou blogar mais adiante sobre isso.)
Isso, e apenas isso, é a grande novidade da presença da Petrobras na rede, que, diga-se de passagem, não começou hoje, apenas agora permite comentários dos leitores em um site, digamos, mais vivinho do que o anterior.
O resto é fumaça!
Leitor agora lê a opinião de leitor sobre o que rola na empresa, estimulada pela Petrobras, que bom!!!
E com direito a réplica da empresa?
Melhor ainda!
São milhares de "jornalistas-participativos", indagando, perguntando, sugerindo, denunciando, apurando.
Quanto a Petrobras vai economizar em pesquisa de opinião?
SaÃmos do SAC com fundo (onde a empresa escuta as queixas, mas não compartilha) para o Saco sem fundo, na qual as crÃticas e elogios são compartilhados com o mundo.
Até rimou!
à aà vem a minha crÃtica ao novo site dinâmico e colaborativo da Petrobras, que muitos gostam de chamar de blog.
Galera, moderar comentário é tiro contra, bola fora, não é assim que rola por aqui no novo mundo colaborativo.
Não aceitem comentários anônimos, isso sim, mas se um brasileiro (ou qualquer outro internauta, já que a Petrobras é multinacional) quer comentar, ele tem o direito de fazê-lo sem censura, sem mediação.
Que digam os maiores absurdos, mas não falem pelas costas, falem diretamente a vocês!!!
Façam como fez o Globo on-line.
Deixe um espaço para denúncia de comentários indevidos, racistas, mentirosos.
Coloquem um filtro de palavrões.
à a comunidade que vai afastar os que estão ali para sabotar, para criar ruÃdo e não somar.
Na rede, quem define isso é a comunidade e não o "dono" do site!
E quando as crÃticas forem improcedentes?
A empresa tem que trazer dados, abertos, claros, cristalinos.
Ah, bom, e se, digamos, a empresa estiver errando, a denúncia tiver procedência?
AÃ, meu caro, vem o preço de ser colaborativo, de ser 2.0, tem que mudar!
Pois denúncia no SAC é um fato isolado e no blog é um fato polÃtico!!!
Apenas isso!
E aà vem a segunda parte dessa novela, a pergunta que não quer calar:
Estará a Petrobras disposta a realmente dialogar?
Além disso, de conversar e assumir seus erros, a partir do blog?
Será ela capaz de criar um espaço na sua hierarquica para fazer do Internauta colaborativo um guia para seu destino, através de ideias, crÃticas e sugestões vindas da rede?
Será que o projeto passou por essa reflexão mais profunda e estratégica?
Aviso aos navegantes 2.0 neófitos: ser 2.0 não é um passo tecnológico, mas ideológico! Cultural.
à esse o desafio saudável que a empresa assumiu no seu novo espaço virtual, repito, que muitos gostam de chamar de blog.
Para o bem ou para o mal, o case servirá de modelo, de discussão para todas as outras iniciativas, tanto no Governo, quanto fora dele sobre empresas colaborativas.
à ver no que vai dar!
Por enquanto,
Viva o Blog da Petrobras!
Concordas?
Carlos Nepomuceno é Doutorando em Ciência da Informação pela Universidade Federal Fluminense é consultor e jornalista especializado em Tecnologia (Informática e Internet), com larga experiência em projetos nestas áreas. Foi um dos primeiros webmasters do Brasil. Atualmente, presta consultoria permanente para as seguintes instituições: Petrobras, IBAM e Sebrae-RJ. à professor do MBA de Gestão de Conhecimento do CRIE/Coppe/UFRJ, com a cadeira "Inteligência Coletiva" e coordenador do ICO - Instituto de Inteligência Coletiva.
à autor, com Marcos Cavalcanti, do livro O Conhecimento em Rede Publicado pela Campus/Elsevier, é o primeiro livro no Brasil a discutir a WEB 2.0, a levantar paradigmas quanto à inteligência coletiva e a mostrar, na prática, como implantar projetos desta natureza. O livro trata desta nova revolução cultural, social e tecnológica a que todos estamos expostos.