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Por Carlos Nepomuceno
Data de Publicação: 29 de Junho de 2011
à falsa a expressão "futuro do livro, da TV, do rádio"; mais adequada: "futuro da circulação de ideias" - Nepô, da safra 2011
Estamos passando uma fase difÃcil, resistindo ao novo século que chega cheio de sangue novo.
Todos falam da preservação do livro, do rádio, da televisão, do jornal impresso.
Outro dia em uma palestra sobre rádio foi me subindo uma raiva e saiu uma frase:
"Ideias sonoras, saiam desse corpo que não te pertence (rádio)!". :)
O ser humano precisa de significado.
Para tal, procura desenvolver canais de distribuição de ideias, seja por áudio, áudio e imagens e textos - os mais flexÃveis e baratos que tiver as mãos.
Vamos sempre - enquanto formos humanos - precisar de ideias circulando em mÃdias disponÃveis, as mais flexÃveis e baratas que tivermos.
Ponto.
Existe os fetiches do antigo. OK.
Tem gente que desfila com carros de 1910.
Ok, são raridades interessantes, mas não serão elas que vão resolver os problemas de transporte do novo século.
Mas isso já disse e não vou repetir.
Quero falar do conceito novo: o livro vivo.
Note que quando escrevia um texto, eu era obrigado a concluÃ-lo, fechá-lo, editá-lo para publicá-lo em um meio que ia ser distribuÃdo para as pessoas.
Ao imprimir um livro o autor concluÃa uma etapa de sua obra.
E fechava aquelas ideias em um determinado ponto.
E todos passavam a ter contato com aquele documento fechado.
Não há como alterá-lo se houver um erro, se ele mudar de ideia, se quiser acrescentar algo, pois aquele corpo não te pertence mais.
Está distribuÃdo na mão dos leitores, já era!
à um canal de distribuição fechado na ponta, sem possibilidade de alteração.
No próprio contrato das editoras, o autor dá a ela o direito de copiar e do acesso aquele material. Em muitos casos, só pode alterar e mexer com a autorização da editora.
Esse é o modelo que marca profundamente a sociedade, pois condiciona nossos cérebros a pensar a produção de ideias dessa forma (fechada, pronta, acabada, distribuÃda sem possibilidade de alterar, já está).
Penso --> Organizo --> Publico --> Distribuem --> Acessam
O que dá uma falsa impressão que aquele autor fechou o seu pensamento, algo sólido, como se ele não continuasse a pensar sobre aquele assunto e fosse mudando.
O meio condiciona.
Esse tipo de caracterÃstica da tecnologia do livro, que molda todo o nosso pensamento contemporâneo, pois é o principal canal de ideias no mundo, nos colocou em um ambiente fechado de conhecimento, lento, ilusoriamente não-mutante e não-participativo.
Podemos dizer que um livro em papel, então, quando sai parte do autor é morta, enterrada naquelas páginas.
O que começamos a ter com a Internet é um outro movimento, no caso deste blog, por exemplo, ou dos novos livros eletrônicos, por exemplo.
Quando eu publico um post, ele é centralizado num local, do qual eu tenho controle sobre as mudanças.
As pessoas estão também descentralizadas, mas vêm ao mesmo ponto buscar o texto.
As pessoas de diferentes lugares, meios, regiões, não recebem mais uma cópia exclusiva, mas vêm até mim acessar um texto central, no qual o autor tem controle e pode alterá-lo, não passando por intermediários (editora).
O que me permite estar sempre atualizando a obra, caso queira.
Já aconteceu muitas vezes alguém me alertar para um erro, comentar um trecho, sugerir uma mudança e eu mudar.
(Não sou daqueles que marco as mudanças, pois não vejo necessidade, o texto é vivo, quem entra num dia vai ver a versão daquele texto, naquele dia, pois me representa melhor. O texto, acho eu, tem que representar o que o autor pensa agora!)
Obviamente, que isso nos leva à diversas discussões sobre memória, preservação, etc, mas tirando isso, o que estou falando é outra coisa relevante e importante com a chegada dos leitores eletrônicos e textos centralizados em rede.
Existe uma macro-tendência em curso da produção de livros mortos para livros-vivos.
Ou seja, ao se ler um livro, por exemplo, na segunda, será diferente de ler o mesmo trabalho na sexta, pois o autor pode ter alterado algo.
E você, inclusive, pode pedir para acompanhar as alterações e até sugerir, ou colocar suas impressões nela.
Os livros passarão a ser centralizados, pois muita gente terá acesso a computadores com conexão o que nos levará a um controle maior do autor, que fará um texto muito mais vivo do que é hoje.
(Obviamente, que esse fenômeno ficará restrito a uma elite, porém é ela que define, infelizmente, os rumos do planeta e isso marcará a civilização, querendo ou não.)
O livro deixa de ser algo fechado e passa a ser aberto, o que tende a influenciar fortemente como pensamos a realidade.
Pois vamos ver o mundo muito mais perto do que de fato ele é: um processo vivo e dinâmico e não parado e estático, como os livros davam a sua impressão.
Um texto só irá estar concluÃdo quando um autor não mais existir, mas mesmo assim teremos os seus seguidores, complementando a obra.
Ok, já é assim hoje com novas edições, mas será muito mais rápido e dinâmico, o que mudará bastante nossa percepção do real.
Seria algo como dizer que as novas edições serão revisadas muito mais rapidamente com o controle e a participação muito mais efetiva dos leitores, pois haverá a concentração dos comentários sobre o livro em um dado lugar.
Este é um dos (talvez o maior), a meu ver, impacto que teremos ao distribuir os livros eletrônicos, a passagem de uma percepção de uma realidade sólida para algo mais lÃquido, mais compatÃvel com um mundo inovador e mais lotado que estamos.
Bem-vindo ao mundo do livro vivo!
Que dizes?
Publicado originalmente em http://nepo.com.br/2011/06/29/bem-vindo-ao-mundo-do-livro-vivo/
Carlos Nepomuceno é Doutorando em Ciência da Informação pela Universidade Federal Fluminense é consultor e jornalista especializado em Tecnologia (Informática e Internet), com larga experiência em projetos nestas áreas. Foi um dos primeiros webmasters do Brasil. Atualmente, presta consultoria permanente para as seguintes instituições: Petrobras, IBAM e Sebrae-RJ. à professor do MBA de Gestão de Conhecimento do CRIE/Coppe/UFRJ, com a cadeira "Inteligência Coletiva" e coordenador do ICO - Instituto de Inteligência Coletiva.
à autor, com Marcos Cavalcanti, do livro O Conhecimento em Rede Publicado pela Campus/Elsevier, é o primeiro livro no Brasil a discutir a WEB 2.0, a levantar paradigmas quanto à inteligência coletiva e a mostrar, na prática, como implantar projetos desta natureza. O livro trata desta nova revolução cultural, social e tecnológica a que todos estamos expostos.