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Por Ivan Postigo
Data de Publicação: 01 de Fevereiro de 2011
Onde nascem as pequenas empresas?
No campo, no mercado, visando atender determinadas necessidades.
O criador, normalmente, conhece todos os clientes pelos nomes e apelidos. Uma relação estreita e amigável.
Sua capacidade de interagir o leva a conhecer pessoas, suas necessidades e meios de atendê-las. Esses fatores geram seu sucesso. O mesmo sucesso que provoca o crescimento de sua organização e o afasta do mercado para tratar de sua complexidade.
O hábito faz o monge. O profissional que adorava as ruas e as visitas, agora, depois de anos de trabalho, incomodado com o trânsito, movimentações, um tanto saturado das batalhas, evita exercer seu maior talento. Justamente aquele que o permitiu criar sua empresa.
Filhos crescidos, começa tentar se convencer a passar o bastão. Aquele que lhe dá sentimento de importância, por isso nunca larga.
Não criou os filhos para entenderem de negócios. Não exercitou o ensino, muito menos a paciência. Não ofereceu para os herdeiros qualquer treinamento e experiência prática. Cursaram as melhores escolas, com regalias, que mais os afastaram dos estudos que os aproximaram.
Chegou a hora da verdade. Ingressar na organização. Cultos, bens informados sobre as técnicas de gestão possuem excelentes bases teóricas, mas nenhuma prática. Fizeram alguns estágios, mas em uma realidade distante do seu mundo.
Iniciam o trabalho verificando que muitas tarefas poderiam ser facilitadas com informatização. Computador, internet, não faz parte da realidade do criador. Este não tem intimidade com o assunto e considera a internet uma grande perda de tempo.
Meses de muita discussão e pouco debate levam os filhos a primeira vitória. Compram o primeiro ERP - sistema de gestão integrado - e iniciam a implantação. A empresa não tem a organização e disciplina necessárias para desenvolvimento de trabalho sistêmico.
Os novos gestores começam a perceber que o fruto tem a mesma qualidade da semente. Dados incorretos, relatórios incorretos. Simples e óbvio.
As discussões sobre o investimento e as demoradas respostas provocam novos confrontos entre o criador e seus herdeiros. Essas disputas produzem a "toxina da paralisia". Ninguém se mexe antes que as brigas cessem e uma ordem seja dada.
A empresa fica dividida, dois grupos se formam. Os empíricos e os teóricos. A divisão é resultado do posicionamento do criador que considera os filhos teóricos demais e dos filhos que dizem que o pai se acha muito prático.
Cada qual com suas crenças arrebanham seguidores. O fato os afasta cada vez mais do mercado.
As dificuldades de comunicação impedem que os novos gestores aprendam algo sobre os negócios e que o criador entenda o novo mundo em que vive.
A concorrência não poderia agradecer maior apoio e avança, ocupando espaço.
Consultores foram chamados aos milhares, mas tudo se resume a uma conversa e propostas que amarelam nas gavetas e adormecem nos computadores.
Fato: "Nenhuma idéia ou conselho tem utilidade para o homem que não tem propósito".
Os herdeiros chegaram cheios de planos, mas com o falta de sucesso na implantação do ERP já não conseguem apoio para novos passos. Rapidamente se tornaram meros colaboradores. Ora reverenciam as sugestões do experiente progenitor, ora se retiram mais cedo, exaustos com as discussões e a certeza de que será mais uma batalha perdida.
A equipe, já intoxicada, sofreu sérias baixas. Bons profissionais se foram e outros sequer emplacaram.
O futuro da organização demonstra estar comprometido. No curto prazo os resultados ainda sustentam a empresa que se encontra com um endividamento desconfortável. Pelas últimas conversas a casa da praia ou o sítio terão que ser vendidos para sua continuidade.
Nos bastidores o eleitorado defende duas teses: Uma afirma que o filho não entende de negócios, outra que o pai não entende de gestão.
Assim que a exposição terminou e os grupos começaram a se reunir para as tarefas, um dos presentes pediu a palavra e disse: - Passei por esses mesmos problemas, logo que meus filhos ingressaram na empresa. Não foram anos fáceis, demoramos para perceber a toxicidade que estávamos produzindo no ambiente. Quando nossas vidas pessoais começaram a ser afetadas, felizmente acordamos e procuramos ajuda. Entre orientações, palestras e leituras nos deparamos com uma frase que nos obrigou a encarar a realidade e agir de forma racional, minimizado os conflitos e tratando todas as questões construtivamente. A frase, em sua total dureza, dizia: "O peixe começa a feder pela cabeça." Foi duro ler e refletir sobre aquilo, mas era o "chacoalhão" que precisávamos.
Não fosse esse encontro ainda estaríamos discutindo e lutando para ver quem tinha razão.
Ivan Postigo é economista, contador, pós-graduado em controladoria pela USP. Vivência em empresas nacionais, multinacionais americanas e européia de lingotamento de aço, equipamentos siderúrgicos, retroescavadeiras e tratores agrícolas, lentes e armações de óculos, equipamentos de medição de calor, pilhas alcalinas, vestuários, material esportivo, refrigerantes, ferramentas diamantadas , cerâmicas, bebidas quentes, plásticos reciclados, hotelaria e injeção de plásticos. Executivo nas áreas fabril, administrativa/financeira, marketing e vendas. Escreve artigos com foco nos aspectos econômicos e de gestão das empresas para jornais e revistas. Desenvolve consultoria e palestras nas áreas mercadológica, contábil/financeira e fabril. Autor do livro: Por que não? Técnicas para Estruturação de Carreira na área de Vendas.