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Por Ivan Postigo
Data de Publicação: 09 de Maio de 2011
Na era do lucro especulativo determinado pelo mercado financeiro, onde empresas, uma após outra, naufragam em seus endividamentos, sem apoio e incentivos para sobrevivência, lucro é um tema que não se esgota.
Um dia, após a publicação de uma matéria que eu havia escrito sobre o assunto, li as críticas onde haviam opiniões a favor e contra os lucros.
Umas diziam que lucro é um direito do empresário, a justa remuneração pelo investimento e pela disposição ao risco, outras criticavam o excesso de lucros das empresas, outras ainda criticavam o capitalismo selvagem cujo único objetivo é o lucro e uma dizia que uma empresa não precisa ter lucro, o que não pode é ter prejuízo.
Lógicas ou ilógicas as frases sobre lucro sempre determinam um posicionamento mais ou menos apaixonado. Poucos são os comentários isentos de emoção.
Num debate sobre a questão um empresário fazia a seguinte colocação com humor : "Lucro no mercado brasileiro é uma realidade ou lenda"?.
Vemos os impostos levarem mais de 30% de todo o fluxo de dinheiro que circula pela empresa, os juros levam aos bancos mais de 5% do montante, os custos levam aos fornecedores de materiais e serviços mais de 50% do valor, e à empresa resta no final menos de 5%, depois de uma longa caminhada.
O fato é que uma empresa para atingir o ponto de lucro deve percorrer um longo caminho até atingir o ponto de equilíbrio, onde as receitas e despesas se igualam.O famoso break-even-point, tão comentado e calculo no meio empresarial.
As empresas dificilmente atingem o ponto de equilíbrio até operarem acima de 65% de sua capacidade, uma vez que tem uma série de compromissos fixos que devem ser pagos ocorram ou não vendas.
Aluguéis, energia elétrica, despesas com comunicação, pessoal administrativo, combustíveis, material de escritório são demandas mensais, com mínimo gasto mensal, ocorram ou não receitas.
Quando se trata de indústria os compromissos fixos são ainda maiores, com um agravante, limitações nos picos de produção.
Nas indústrias, com uma série de máquinas para fabricação de seus produtos, as limitações podem ocorrer em setores diversos em função das características destes.Estas limitações são denominadas gargalos.
Um indústria têxtil por exemplo pode fabricar tecidos, corta-los, borda-los, estampa-los e costura-los.
Se a demanda por tecidos bordados for extremamente alta, a limitação para atendimento dos pedidos ( gargalos ) pode-se se dar nesse setor, ao passo que se a demanda for muito alta por tecido estampado, aí é que poderá estar o gargalo. À medida que a empresa supera seu ponto de equilíbrio entra na zona de conforto, onde os lucros aparecem sem necessidade e ansiedade por novos investimentos, contudo o sucesso interrompe esse estágio.
Uma indústria operando acima de 80% de sua capacidade de produção começa a sentir os efeitos da queda de produtividade, da quebra de máquinas, da ineficiência operacional, requerendo um maior esforço para manter a mesma lucratividade.
É evidente que nenhum empresário não se sentirá feliz por ver sua empresa crescendo e prosperando, mas se sentirá preocupado seguramente, pois poucos são os meios de financiamento do crescimento da produção com juros razoáveis.
Em muitos países os juros para compra de equipamentos não ultrapassam 6% ao ano, ao passo que no nosso mercado os mais razoáveis estão um pouco acima de 15%.
Imaginar que a zona de conforto de lucratividade está numa faixa de 15 a 20 % do uso da capacidade, num mercado que pouco incentiva o crescimento, é mais um motivo para se defender o direito ao lucro, não fosse este inerente aos negócios.
Não acredita nisso?
Abra uma empresa, trabalhe um ano, faça-a crescer, invista seus recursos, seu tempo, seus domingos e feriados e volte a refletir.
Ivan Postigo é economista, contador, pós-graduado em controladoria pela USP. Vivência em empresas nacionais, multinacionais americanas e européia de lingotamento de aço, equipamentos siderúrgicos, retroescavadeiras e tratores agrícolas, lentes e armações de óculos, equipamentos de medição de calor, pilhas alcalinas, vestuários, material esportivo, refrigerantes, ferramentas diamantadas , cerâmicas, bebidas quentes, plásticos reciclados, hotelaria e injeção de plásticos. Executivo nas áreas fabril, administrativa/financeira, marketing e vendas. Escreve artigos com foco nos aspectos econômicos e de gestão das empresas para jornais e revistas. Desenvolve consultoria e palestras nas áreas mercadológica, contábil/financeira e fabril. Autor do livro: Por que não? Técnicas para Estruturação de Carreira na área de Vendas.