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Por Jaime Balbino
Data de Publicação: 30 de Março de 2007
Quando o Simputer chegou ao mercado asiático na virada do século, muitos apostaram que seria um produto revolucionário que mudaria parâmetros industriais e que tiraria o seu fabricante, a indiana Encore, do ostracismo. O NY Times, por exemplo, disse no final de 2001 que este era um produto mais inovador que os recém-lançados Widows XP, da Microsoft, e PowerBook G4, da Apple, capaz de promover uma revolução digital no 3º mundo.
De fato, a idéia de um computador de mão muito parecido com os palmtops ou PDAs, voltado para a conexão e desenvolvimento econômico-social de comunidades isoladas, era atraente. Mas, indo além, o Simputer possui também características únicas que, teoricamente, o tornariam ideal para a difícil tarefa a qual se propunha:
Tal qual o XO da OLPC (destrinchado em vários outros artigos desta coluna) o Simputer utiliza tecnologia barata e de fácil domínio. Seus componentes são simples e a capacidade de processamento é muito baixa, mas suficiente para seus objetivos. Ele serve a tarefas básicas e fundamentais voltadas para a promoção e o desenvolvimento de comunidades isoladas dos grandes centros (a grande maioria da população mundial): acesso a bases de dados centralizadas, transferência de dados, recebimento de notícias, capacitação profissional para agricultores, apoio a programas de saúde e até tele-medicina.
O Simputer não é um computador pessoal. A idéia inicial era que existisse apenas um em cada comunidade e que cada cidadão tivesse um cartão smartcard que permitisse o acesso individualizado ao aparelho. Este cartão teria o cadastro pessoal do usuário e guardaria algumas poucas informações que ele desejasse.
Apesar do baixo preço e das facilidades que trazia na logística de implementação, o Simputer, quando do seu lançamento, custava tão caro quanto um palmtop convencional. Para sua disseminação e uso efetivo, um planejamento sério era necessário, o que significava o envolvimento do governo local e das comunidades beneficiadas. Além disso, a infra-estrutura de suporte, dependendo da situação, poderia se tornar extremamente complexa e cara, já que conectar comunidades isoladas à Internet e oferecer serviços compatíveis com suas necessidades está muito longe de ser uma tarefa fácil ou óbvia. (Particularmente, imagino os políticos fugindo deste desafio e virando-se novamente para o modelo liberal tradicional, mais fácil de implementar e bem mais lento e incerto nos resultados.)
O fato é que o Simputer vendeu muito menos que o esperado. Sua arquitetura flexível permitiu seu uso em diversas outras situações, como controle de tráfego e coleta de dados em campo. Apesar de não ser um projeto educacional, o Simputer pretendia auxiliar o desenvolvimento humano por outras vias: promovendo o acesso a informação, compilando dados que permitissem a previsão de situações, coletando variáveis coletivas e individuais importantes para o planejamento governamental, auxiliando programas de saúde, oferecendo serviços bancários, liberando financiamentos em micro-crédito e até desenvolvendo hábitos e competências práticas.
Não é errado dizer que o modelo de "um computador por comunidade" defendido pelo Simputer influenciou a solução educacional de "um computador por aluno" da OLPC; assim como o primeiro foi influenciado por outros trabalhos do MIT (que tratarei em outro artigo). Mas se o pioneirismo da Encore é inegável, a imensa divulgação recente dos atos e intenções da OLPC deu novo fôlego à empresa indiana. Veremos isso no próximo artigo.
O Simputer ainda existe como solução barata para coleta e manipulação de dados. Outros produtos similares e mais potentes foram criados pela empresa com foco nos mais diversos usos, inclusive militar. Mesmo não tendo atingido plenamente os mercados propostos, o Simputer é um marco importante no desenvolvimento de soluções práticas baseadas em equipamentos móveis acessíveis. É interessante notar que ele não se tornou obsoleto, pelo contrário, é uma forte referência de como a criação de serviços é tão ou mais importantes que o hardware em si.
Reportagem com a história e a equipe de desenvolvimento.
Cinco projetos de e-Governo, geo-estatística, saúde e educação desenvolvidos com o Simputer.
O Simputer sendo usado para editar seu próprio verbete na Wikipedia.
Simputer na Wikipedia.
Monte um Simputer: diagramas, esquemas, lista de componentes e layout da placa.
O Amida, um projeto baseado no Simputer mas com foco no mercado de palmtops/PDAs.
Jaime Balbino Gonçalves da Silva é Learning Designer e consultor em automação, sistemas colaborativos de ensino e avaliação em EAD. Pedagogo e Técnico em Eletrônica. Trabalha na ProfSAT - TV Educativa via Satélite. Reside em Campinas, São Paulo.
jaimebalb (em) gmail (ponto) com
Professor desde 1986. Pedagogo, criou projetos de laboratórios de informática nas escolas. Coordena grupos de trabalho em educação inclusiva e uso de novas tecnologias. Faz parte de comunidades Linux voltadas a educação como Linux Educacional, Pandorga GNU/Linux dando apoio pedagógico. Palestrante e ministrante de cursos de formação em software livre educacional desde 2009. Participante e palestrante de eventos como Latinoware (foz do iguaçu), FISL (Porto Alegre), Freedom Day (novo hamburgo), Congresso Alagoano de Tecnologia de Informação - COALTI (edições em Alagoas e Pernambuco). Entusiasta de distribuições linux desde 2002.
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