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Por Jaime Balbino
Data de Publicação: 06 de Junho de 2007
Aqueles que já montaram sistemas de alta-demanda com serviços críticos sabem a difícil arte que é conciliar estabilidade com restrições de tempo e orçamento, além das expectativas dos donos e usuários mortais. Em educação, uma estrutura de serviços consistente está muito longe de poder ser resumida a um servidor LAMP (Linux + Apache + MySQL + PHP) e uma instalação padrão do Moodle feita em 10 minutos. Isto pode até satisfazer os mais desavisados e menos exigentes, mas não representa o "estado da arte" dos serviços que hoje são possíveis combinar e personalizar de maneira a oferecer ao usuário final (aluno, professor ou cidadão comum) uma experiência rica em EAD ou no ensino presencial apoiado em TICs.
Aliás, enganam-se os que pensam existir softwares mágicos capazes de resolver num simples clique do botão "instalar" todos os problemas. No mundo real só é possível apresentar uma solução satisfatória quando se conhecem profundamente as iniciativas e também os problemas que serão enfrentados. Nem o profissional muito técnico e nem o muito "bitolado" são capazes de soluções eficazes sozinhos. Daí a importância do trabalho em equipe e da escolha de perfis/habilidades complementares, como aquela variedade fértil que encontramos em quadros docentes, secretarias e gestores de boas escolas.
Também só porque estamos familiarizados (ou especializados) com um tipo de solução não significa que temos que "dobrar" todos os problemas para que "se encaixem" no nosso domínio. Acreditar neste tipo de convergência enciclopédica e monolítica é ficar fadado a oferecer soluções parciais para problemas complexos, negando as peculiaridades que cada sistema deveria ter. Retomando o "LAMP + Moodle" acima, por exemplo, se ele serve como solução primária para a maioria das implementações de EAD hoje, isto não significa limitar-se a usá-lo superficialmente, sem contribuir para melhoria e ampliação de seus recursos ou relevar a busca por outras soluções com características mais específicas para determinado caso.
Com a popularização dos computadores de baixo custo (como o Mobilis, Classmate e XO) as escolas, faculdades e demais centros de formação públicos e particulares terão novas ferramentas para as quais os gestores serão obrigados a considerar seu uso. Afinal, em uma escola particular de ensino fundamental a lista de material anual pode chegar a mais de mil reais, enquanto um equipamento destes não deverá passar de 200 dólares, substituindo ou complementando uma parte significativa da lista. Para os pais dos alunos destas escolas, a aquisição de uma máquina destas (que dura 5 anos) como material escolar tende a ser tão natural quanto a compra dos livros didáticos, da régua e do papel sulfite.
Porém, se isto em um primeiro momento funcionará como marketing para escola atrair e manter alunos, logo em seguida exigirá uma reestruturação completa do currículo e a implementação de novos serviços aos alunos, pais e professores; serviços estes que até agora eram desnecessários ou que simplesmente nunca foram considerados, como redes wirelles e serviços de intranet estáveis com suporte a muitas conexões concorrentes e simultâneas. Em sistemas mais avançados deve-se pensar em servidores de mídia, serviços em multicast e IPV6, etc...
Uma rede intranet escolar tradicional, seja pública ou particular, raramente consegue suprir necessidades básicas, mesmo porque os alunos utilizam os computadores da escola poucas horas na semana e os professores simplesmente não possuem hábitos que aproximem a tecnologia com o ato de lecionar para além de slides em Power Point e pesquisas bibliográficas. Mas se os alunos e professores têm a possibilidade de se conectarem a qualquer hora com equipamentos pouco potentes e de pouca memória, os serviços que eles terão que acessar são muito maiores e mais complexos. Serão escolhas críticas, tanto técnicas quanto pedagógicas.
Montar um servidor para trabalho colaborativo com serviços de wiki, blog e outros softwares escolares específicos, como o FLE3, pode parecer óbvio à primeira vista, já que os pacotes estão disponíveis na rede. Mas tirar o máximo proveito de suas configurações e construir um método de ensino envolvente com eles... é uma outra história, que pode ser frustrante para o professor mais motivado.
Mas isso não significa que se deva desanimar. A história desta nova educação ainda está sendo escrita e o principal segredo é ser coerente: se o objetivo é trabalhar colaborativamente com seus alunos, então o professor também deve agir colaborativamente, compartilhando seus resultados e frustrações com seus pares. Não se pode ensinar para o wiki sem também ser wiki.
Mas esta é apenas uma pequena parte de toda a nova tecnologia que está a nossa disposição. Nos últimos anos temos acompanhado e implementado soluções das mais diversas em educação, algumas diretamente relacionadas ao ensino, outras simples conseqüência de um modo de trabalhar e viver compatíveis com as novas habilidades necessárias para este milênio e com as tecnologias mais populares. Padrões educacionais (o IMS-LD é só um exemplo); plataformas colaborativas automatizadas; mensageiros e video-conferência; quadro-branco; simulação e realidade virtual; mídia sob-demanda; rádio on-line e vodcast, TV Digital, Ruby on Rails, RED5/OpenLazlo, VLC, Smil, Bonjour e MythTV/Freevo/LinuxMCE são alguns exemplos.
No meio de tantas tecnologias reina o software livre. Se não basta a opção ideológica confessa, fica a análise de que é difícil interligar tudo isso a um custo razoável e com a agilidade necessária só com software proprietário, incompatibilidades propositais, patentes pendentes ou soluções híbridas complexas.
Não há espaço para ortodoxias nos futuros servidores escolares. Se alguém aparecer com uma solução única e padrão, desconfie. Ela pode ser boa e suficiente, mas não lhe dará a chance de explorar todas as possibilidades concorrentes. Veja o que a Google faz e pense como eles! Será que você está preparado para o futuro?
Observação: Não quero aqui negar os esforços para a construção de servidores padrão para escolas públicas, como a OLPC e o UCA tem feito. Apenas afirmo que sua configuração não pode limitar os serviços disponíveis ao usuário ou a expansão destes. Em outros artigos falaremos destas iniciativas e analisaremos um perfil para servidores com finalidade genérica para escolas.
O primeiro artigo desta série.
Leia também: "Em EAD, faça as perguntas certas".
Sobre possíveis serviços e equipamentos, veja "A Escola de Maria".
Sobre inovação, Apple, Google, Smil e outras tecnologias, veja este texto do Fred.
Jaime Balbino Gonçalves da Silva é Learning Designer e consultor em automação, sistemas colaborativos de ensino e avaliação em EAD. Pedagogo e Técnico em Eletrônica. Trabalha na ProfSAT - TV Educativa via Satélite. Reside em Campinas, São Paulo.
jaimebalb (em) gmail (ponto) com
Professor desde 1986. Pedagogo, criou projetos de laboratórios de informática nas escolas. Coordena grupos de trabalho em educação inclusiva e uso de novas tecnologias. Faz parte de comunidades Linux voltadas a educação como Linux Educacional, Pandorga GNU/Linux dando apoio pedagógico. Palestrante e ministrante de cursos de formação em software livre educacional desde 2009. Participante e palestrante de eventos como Latinoware (foz do iguaçu), FISL (Porto Alegre), Freedom Day (novo hamburgo), Congresso Alagoano de Tecnologia de Informação - COALTI (edições em Alagoas e Pernambuco). Entusiasta de distribuições linux desde 2002.
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