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Receptores para a TV Digital Open-Source?

Por Jaime Balbino

Data de Publicação: 13 de novembro de 2007

Até agora "não vimos a cara" dos aparelhos que permitirão assistir a programação da TV Digital Brasileira (chamados de setup-box). Para a população restou apenas os comerciais de gosto duvidosos e informação comedida que o seu comitê-gestor está bancando.

Em outros países o lançamento de uma nova tecnologia é precedido da exibição pública, do pré-lançamento e até da venda antecipada de produtos compatíveis. É neste momento que os fabricantes e desenvolvedores esperam faturar mais e podem por à prova suas estratégias, potencializando a adoção mais rápida da nova tecnologia pelos consumidores.

Foi assim com o 3G recentemente. Antes da nova tecnologia para celulares chegar de fato ao consumidor os aparelhos já vem sendo apresentados ao público, mesmo que somente as carcaças vazias para dar idéia dos novos conceitos. Também os futuros serviços disponíveis são alardeados, comentados e discutidos tecnica e socialmente através da imprensa e de sites especializados.

Nada disso se viu no Brasil em todo o processo da TV Digital até agora. E isso não é culpa das indefinições que ainda pairam no ar, como a interatividade, o canal de retorno, padrões de áudio e vídeo, patentes, incentivos fiscais e questões técnicas menores. Afinal, as principais diretrizes já foram definidas desde o decreto de junho deste ano que instituiu em linhas gerais todo o modelo nacional.

Além disso parece que o governo federal não conseguiu convencer a indústria brasileira a investir na oferta de equipamentos baratos, democratizando assim o acesso à novidade. O preço mínimo dos aparelhos de TV novos será de no mínimo R$ 6 mil (ou até 20% mais caros que as TVs de plasma vendidas hoje). Enquanto que os setup-box que permitirão qualquer TV convencional acessar a programação em alta-definição será de R$ 800, isto é muito mais caro que um aparelho de TV convencional destinado ás classes C e D.

A TecToy estará vendendo um receptor do tamanho de uma pen-drive para computadores. O preço: R$ 350...

Onde estão os setup-box abaixo de R$ 200 prometidos pelo governo? Este preço seria conseguido através de incentivos diversos, inclusive com renúncia fiscal e o financiamento de pesquisas e linhas de produção. Também me pergunto a quanto sairá o Mobilis, da Encore do Brasil. Se o preço dele passar muito dos R$ 500 irá igualmente se afastar do poder aquisitivo da maioria dos brasileiros que são, diga-se de passagem, a maior massa consumidora do país (só o empresariado de tecnologia e os economistas que não entendem isso).

Comentei com o Fred da coluna Filosofia Digital sobre esta tendência à elitização e ele me perguntou porque não se faz um setup-box open-source. De fato, o sistema é muito simples e se os componentes estiverem disponíveis no varejo qualquer técnico em eletrônica do primeiro ano conseguiria montar um setup-box. Mas é necessário existir um projeto completo, livre, desenvolvido em comunidade e aproveitando o código livre já existente, como o do Ginga, solução nacional que estará no firware de alguns setup-boxs.

Seria algo como o Simputer, projeto de palm livre com lista de componentes, esquemários, layout de placas e descrição de montagem. Pode ser necessário fazer gravações de programas em componentes (como EPROMS e PALs) mas isso não deve intimidar ou bloquear o projeto (poucas pessoas possuem gravadores para chips em seus laboratórios caseiros).

O fato é que um projeto livre de fácil montagem e com componentes comuns tende a criar sua própria malha econômica autônoma, isto é, um mercado popular que se retro-alimenta e traz melhorias ao próprio projeto, fazendo com que a evolução do setup-box livre ocorra mais rápido, o que significa também agregar ao hardware serviços e possibilidades.

Fica a idéia. Se depender dos atores "oficiais" chegaremos ao natal de 2008 com os setup-box e outros aparelhos custando metade do preço de hoje. O que ainda será mais caro que uma TV convencional para a maioria da população.

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Sobre os autores

Jaime Balbino Gonçalves

Jaime Balbino Gonçalves da Silva é Learning Designer e consultor em automação, sistemas colaborativos de ensino e avaliação em EAD. Pedagogo e Técnico em Eletrônica. Trabalha na ProfSAT - TV Educativa via Satélite. Reside em Campinas, São Paulo.

jaimebalb (em) gmail (ponto) com

Marcos Silva Vieira

Professor desde 1986. Pedagogo, criou projetos de laboratórios de informática nas escolas. Coordena grupos de trabalho em educação inclusiva e uso de novas tecnologias. Faz parte de comunidades Linux voltadas a educação como Linux Educacional, Pandorga GNU/Linux dando apoio pedagógico. Palestrante e ministrante de cursos de formação em software livre educacional desde 2009. Participante e palestrante de eventos como Latinoware (foz do iguaçu), FISL (Porto Alegre), Freedom Day (novo hamburgo), Congresso Alagoano de Tecnologia de Informação - COALTI (edições em Alagoas e Pernambuco). Entusiasta de distribuições linux desde 2002.


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