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Por Prof. Marcos S. Vieira
Data de Publicação: 29 de Outubro de 2013
Durante algum tempo na escola em que lecionava, trabalhei com crianças com necessidades especiais. Este grupo de mais ou menos 20 crianças, tinham os mais variados problemas. Desde a mais simples dificuldade física até as mais graves e complicadas. Mesmo sem ter qualificação para tal trabalho, resolvi tomar algumas atitudes. Tinha em mãos um laboratório de informática, equipado, e começei por observar e analisar as necessidades daquelas crianças. Achei muito pouco o trabalho em conjunto que fazia com as turmas e queria resultados melhores com elas.
Após concluir minhas observações e chegar a algumas conclusões, resolvi tomar algumas iniciativas. A primeira delas foi garimpar entre os programas que tinha os que trouxessem melhores resultados aos problemas que havia observado. A segunda iniciativa foi criar um momento, ou horário que fosse mais adequado ao atendimento delas. E a terceira iniciativa foi conseguir de meus colegas e direção da escola liberação para fazer isto durante as aulas, o que foi mais fácil.
Com tudo isto em mãos e com um projeto, iniciei os trabalhos. Tive como base inicial a dificuldade destas crianças em empunhar um simples lápis e movimentá-lo. Como muitas delas não conseguiam ter o "movimento de pinça" (indicador e polegar) bem definido, usei alguns jogos de manipulação de mouse para isto. O mouse sendo maior, facilita os movimentos e faz com que a criança tenha uma melhora consideravel nesta habilidade. Como resultado elas tiveram uma boa progressão, algo observado pelos professores de sala de aula. Os jogos usados nestas atividades foram os jogos do GCompris, na parte de manipulação de mouse, clique simples e clique duplo. Além de ser divertido, transformou com o tempo, movimentos bruscos e pesados em movimentos suaves e leves e os professores reproduziram em sala as atividades oriundas do laboratório de informática, também com grande progresso e sucesso.
Outro jogo utilizado foi o ZORELHA, software de ensino musical criado na UNIVALI de Itajaí/SC. Aqui eu usei o referido software para aprimorar a audição e identificação de sons e instrumentos. Além disso, levei a estas crianças músicas infantis que não são agressivas aos ouvidos. Elas aprenderam também o ritmo e a visão de músicas do nosso cotidiano infantil. O resultado disto, foi um aprimoramento na interpretação dos sons e reconhecimento de músicas e instrumentos. Fora a grande alegria delas ao ouvir músicas que lhes agradavem aos ouvidos. Os professores de sala de aula notaram uma maior participação nas aulas em que se apresentavam músicas, cada uma de seu jeito, sendo respeitadas suas dificuldades.
O terceiro jogo foi o Tux Paint, jogo certamente conhecido por todos os que usam software livre. Ele foi usado para que as crianças tivessem iniciativa de criação. Mas não apenas para isto, a pintura e criação livre faz com que ela demonstre melhor sua visão do mundo. Em muitas ocasiões vimos crianças que usavam apenas uma cor, vimos crianças que gostavam de criar foto montagens, outras gostavam apenas dos carimbos que emitiam algum som. E, muitas apenas ficam pintando indefinidamente. Isto nos deu base para muitas interpretações, e muitos dos problemas de relacionamento entre estas crianças ditas "especiais" foram solucionadas com uma boa análise e adequação dos trabalhos em sala, junto com o que foi adquirido no laboratório de informática.
Bem, além deste atendimento, sempre nas aulas de informática incentivamos o compartilhamento de informações e coleguismo. Assim conseguimos superar adversidades e preconceitos.
Um caso que marcou em minha vida foi a de um menino que não queria de forma alguma ficar em sala de aula com uma menina que tinha necessidades especiais. Com muito tato consegui convencê-lo a ajudá-la nas aulas. Como resultado, este menino virou um marco no auxílio a esta menina. E quando sai da escola ele era o "esteio" dela em "todas" as atividades.
Com todas as informações que adquiri mostrei meu trabalho em uma palestra intitulada "Integrando Crianças com Necessidades Especiais com SLE" que foi apresentada no COALTI e no Latinoware em 2012. Nela tenho todo o relato com videos e opinião dos professores de todo o trabalho executado e seus reais resultados.
Enquanto esperamos soluções milagrosas para os problemas educacionais e, para os problemas de inclusão, podemos fazer nossa parte ajudando os professores com as ferramentas que temos em mãos.
Todos os programas usados podem ser baixados gratuitamente pois fazem parte de uma ação conjunta em prol da educação com uso de Software Livre.
Isto não significa que apenas podem ser usados por escolas ou pessoas que usem Software Livre. Eles estão também disponíveis para usuários de Software Proprietário.
Disponibilizo os links abaixo para download dos softwares que usei neste projeto.
Haveremos de nos humanizar a ponto de ver que em algum aspecto todos somos especiais? (autor desconhecido)
Jaime Balbino Gonçalves da Silva é Learning Designer e consultor em automação, sistemas colaborativos de ensino e avaliação em EAD. Pedagogo e Técnico em Eletrônica. Trabalha na ProfSAT - TV Educativa via Satélite. Reside em Campinas, São Paulo.
jaimebalb (em) gmail (ponto) com
Professor desde 1986. Pedagogo, criou projetos de laboratórios de informática nas escolas. Coordena grupos de trabalho em educação inclusiva e uso de novas tecnologias. Faz parte de comunidades Linux voltadas a educação como Linux Educacional, Pandorga GNU/Linux dando apoio pedagógico. Palestrante e ministrante de cursos de formação em software livre educacional desde 2009. Participante e palestrante de eventos como Latinoware (foz do iguaçu), FISL (Porto Alegre), Freedom Day (novo hamburgo), Congresso Alagoano de Tecnologia de Informação - COALTI (edições em Alagoas e Pernambuco). Entusiasta de distribuições linux desde 2002.
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