você está aqui: Home  → Colunistas  →  ETIEZA OD ROTNEVNI O ZAJ IUQA

 

MAS SERÁ O BENEDICT? - Uma novela Linux em 8 capítulos - Parte 2

Por Franklin Carvalho

Data de Publicação: 23 de Agosto de 2013

Langdon chega em BH, 2/8

Robert estava no Brasil como consultor dos estúdios Miramax para a superprodução "Pelé, o atleta do século". Brad Pitt havia dado o sim para encarnar nas telas o fabuloso jogador. O produtor executivo do filme, na semana anterior, e que se apresentara ao telefone como Mr. Benedict, conversou com êle sôbre a viagem por diversas capitais canarinhas.

— Professor Langdon, sou fã de seus livros. Acabei de ler Anjos e Demônios. Desculpe a ousadia mas lhe ocorreu o argentino como piloto do helicóptero? O cara é muito carismático e está com o esqueleto super apt-get dist-upgrade...

— Será um prazer contar com você em nosso kernel, disse sem perder tempo Benedict. Aqui está uma loucura, não paro de digitar "ps ax" para examinar o andamento dos processos. Prepare-se para muitos vôos, taxis e hotéis, sua viagem será bastante corrida. Dá medo só de olhar o seu crontab, Professor Langdon. Estou enviando ao senhor o roteiro resumido, um "/var/log/messages" como fonte de consulta, e seus contatos no Brasil. O filme começa em Belo Horizonte, onde Pelé aos 96 anos, aos prantos, vai visitar o túmulo de seu primeiro técnico, o Kibon, o que lhe ensinou a paradinha, a matada no peito e outras habilidades. Desculpe a correria mas Mr. Pitt cobra por dia. Loucura esse nosso orçamento! Quando uso o "bc" já maximizo o "xterm". Nunca vi tantos zeros.

— O senhor sabe alguma coisa sobre o Brasil? Vou lhe enviar alguns livros para o senhor se informar, emendou.

Benedict se despede de Langdon dizendo-lhe: O courier deve estar chegando em breve, qualquer dificuldade entre em contato com minha assistente, Miss Kim. Resolva tudo com ela.

Assim que o telefonema acabou Langdon ouve a a campainha e vai abrir a porta. Ninguém. No chão um pacote com uma minúscula etiqueta com os dizeres: De Mr. Benedict, Miramax, para Robert Langdon, porta 8080. Good lucK!

— Orra meu, esse Benedict é rápido mesmo, sussurrou Langdon, enquanto abria o pacote em cima da mesa.

O iPhone 12, putzgrila, de 68 cms de comprimento, impressionou Langdon que adorava seu S4 mas teria que empunhar aquela carabina durante a viagem. Os livros Wasps Fire, Website of the Yellow Woodpecker e Regular Expressions, do Aurélio Jargas. Um abadá, algumas camisetas e bermudas, um par de havaianas, que ele adorou. Um notebook, que Langdon desprezou. Robert nunca iria largar seu Macbook. Uma agenda com diversas anotações, várias passagens aéreas, o roteiro resumido, uma camisa do Cruzeiro, uma caneta de marcar DVD's e outros badulaques. No fundo da caixa, um envelope que Langdon abriu de imediato.

"Sua aventura começa em BH. O senhor desembarca no Rio e já pega outro vôo para Belo Horizonte. Seu contato estará lhe esperando. O nome dele é Mr. Célio Márcio e será seu cicerone. Good lucK!"

Langdon achou estranho aquele K maiúsculo no final da mensagem. Pela segunda vez. Vai ver que Mr. Benedict tem o tique do Caps Lock, pensou. Enquanto folheava as páginas recheadas de anotações da agenda encontrou o celular de Mr. Pitt em uma delas. Ligo, não ligo, ligo, não ligo... Resolveu ligar.

— Hello, Mr. Pitt, disse Langdon visivelmente nervoso, eu sou Robert Langdon, consultor contratado da Miramax. Espero encontrá-lo em breve. Estou de viagem marcada ao Brasil para ajudar os roteiristas.

— Sou seu fã Mr. Langdon, disse a voz do outro lado, causando perplexidade e enrubecimento. Não vejo a hora de conhecê-lo. Será um desafio honrar meu maior cachê, de US$ 20.000.00, e representar um de meus ídolos. Não vejo a hora de começar as filmagens. Sabe como é difícil cuidar de cinco filhos e ainda ter que desempenhar um pornôzinho com a patroa, todas as noites? Preciso pegar o primeiro chequinho pois tenho tantas contas atrasadas..., confessou Pitt.

— Soube que o senhor passará por BH, diz Pitt. Dá para pegar um autógrafo do Tostão? Ou estou abusando? Langdon entendia agora a camisa do Cruzeiro e a caneta de DVD's.

— Sem problema Mr. Pitt, também gostaria de conhecê-lo. Eu adorava aquelas perninhas tortas...

— Obrigado Langdon, tenha uma boa viagem. Cuidado que lá o clima é bem quente, muito mais que a minha patroa.

— Tchau Mr. Pitt, e desligou. Aquele aviso sôbre o calor assustou Langdon. Mais quente que a Jolie? Nossa!!!

Ao desembarcar no Galeão Langdon pegou a passagem para Confins e rumou direto ao embarque. Caceta! Como é quente aqui! Resmungou enquanto suava em bicas. Mas ele nunca se permitiria tirar o paletó. Não era faSSHion.

Achou estranho tantas faixas. Infraero em greve, Polícia Federal em greve, Ônibus em greve. Puxa, quanta greve!

Lá fora do aeroporto uma multidão gritava "Fora Cabral", o que assustou Langdon, pois estava a centenas de metros da manifestação. Langdon se perguntava: "Ué? O português continua vivo? Ou será um parente seu?"

Achou estranho o nome da companhia aérea: K-Gol. Outro K? Como tem K nesse filme. Mas ignorando o comentário lá foi ele para o ônibus que o levaria ao avião. A cena que se seguiu horrorizou Langdon. Escrito na carroceria toda amassada do ônibus, com diversos buracos de bala: "Lotação: 36 passageiros". Deveria haver ao menos uns 300 caras de pé se acotovelando.

Assim que sobe a escadaria do avião. Robert leva a mão ao bolso do paletó e percebe que sua carteira havia sumido e que o zíper da sua calça estava aberto. Langdon se deu conta que a loiraça peituda no ônibus não estava aproveitando para dar um guento, e sim vistoriando a bagagem. Como fui idiota, choramingou. Mas seja positivo Robert, curta a viagem, repetiu. Ainda tenho 2 cartões VISA no bolso da camisa. Ao verificar o bolso da camisa: Ops! Só um. E um bilhete: "Meu nome é Walkirya, me encontre no Leblon, na boate Lesbos, no sábado às 23:50. Vamos curtir". Amassou-o com raiva e atirou-o no chão. Um fiscal da Prefeitura do Rio imediatamente autuou-o em R$ 157,00. Langdon pergunta: "Aceita cartão?".

Durante o vôo Robert folheava Regular Expressions para distrair-se.

— Tá doido! Que coisa complicada! Esse Aurélio devia ser astronauta, físico nuclear... Será que a mãe dele tocava Mozart durante a gestação? E deu um vade retro Satanás no livro. Nem os Stephen King eram tão aterrorizantes como aquele Regular Expressions. Aí começou a ler a tradução americana de Marimbondos de Fogo, de José Sarney. Lá pela quinta página, com mêdo de não conseguir dormir à noite, voltou rapidinho a ler Regular Expressions, 4th Edition.

Ao desembarcar em Confins, lá estava Mr. Célio com a plaquinha à sua espera.

— É um imenso prazer recebê-lo Mr. Langdon, apresentou-se Célio, mas pode me chamar de Celin, como meus amigos. Lá na LinuxPlace o senhor tem muitos fãs. Vejo que o senhor se interessa por Linux, examinando o livro em sua mão esquerda. Esse é um livro bem fácil, tipo be-a-bá às crianças, mas muito bom. Meu filhinho Marco Antônio adora. Leio trechos dele todas as noites para os amiguinhos do meu filho. Esse é dez!

Robert revirou os olhos nas órbitas com o comentário. Trêmulo, não conseguiu balbuciar resposta.

— Vou levá-lo ao hotel imediatamente. O senhor deve estar exausto, cordialmente disse o cicerone.

De repente, Célio se atira sôbre o corpo de Langdon enquanto grita: "Abaixa a cabeça Langdon!"

Robert ouviu um Zummmm perto de sua cabeça e descobre que por pouco não tinha sido alvejado por uma cadeira voadora, não fosse a intervenção do Célio. Assustado, no chão, Langdon ouve o mineirin dizer enfático: "Nunca, nunca mesmo, fique na frente de caixas automáticos no Brasil! É muito perigosin!"

Ao se levantar, Langdon observa o aeroporto: Fora Ananias, Atlético na zona de rebaixamento, Polícia mineira em greve, Ônibus em greve, Fiat em greve, Táxis em Greve, Xô! Copa do Mundo, Pilotos em greve, Aeromoças em greve, Goleiro Bruno em greve, exatamente como no Rio. Todos os caixas automáticos destruídos. Um caos. Uma autêntica zona de guerra.

Ao entrarem no carro do Célio este oferece-lhe um pãozinho de queijo. Petrificado com as cenas no desembarque, Robert aceita. "Come isso que você melhora!", disse Célio.

— Não é que isso é bom mesmo! Tem mais?, perguntou Robert de boca cheia. Traçou 15 em 10 minutos.

Passaram em frente aos pondions e mais gente gritando: "Não sou sardinha!", enquanto ateavam fogo nos ônibus. Gente, o Iraque é bem mais tranquilo, pensou Robert com seus botões. Tudo pela arte, consolou-se. Célio, durante o trajeto, ia apresentando a cidade: "Aqui, nesse bordel, Juscelino concebeu Brasília", "Aqui, nesse posto do SUS, morreu à espera de atendimento, a Janis", "Aqui, nesse boteco, Milton Nascimento compôs Travessia", "Aqui é a loja do Tostão"...

Mal terminou a frase e Langdon puxava violentamente o freio do carro e rodopiavam pela pista.

— Você disse Tostão, Célio?, perguntou Robert.

— É, aqui é a loja dele. Quer conhecê-lo? Sou amigo dele, disse ao observar os olhinhos brilhando em Robert.

Saindo do meio da pista, Célio manobra o carro para estacioná-lo. Ao descerem do carro, claramente emocionado, Robert contempla a fachada da loja. Sim, ele estava lá, no balcão. Célio apresentou-os e Tostão diz:

— Quando seu Código dava Vinte eu já dava Trinta no Campeonato Mineiro!, comentou com um sorriso maroto. E antecipa-se, tirando a camisa do Cruzeiro das mãos do Professor enquanto destampava a caneta para assinar uma dedicatória. "Ao meu amigo, Robert Langdon, um enorme abraço do Tostão". Adicionou nas costas da camisa azul: "Good LucK". Aquilo deixou-o desnorteado. Outra vez o K maiúsculo?

Tostão encara Langdon e diz: "Esqueceu que a camisa era para o Pitt, né?", enquanto saca outra camisa azul debaixo do balcão, previamente autografada. Meio brusco, Tostão interrompe a conversa: "Área! Sai da frente que atrás vem gente!", fitando a romaria dos fãs que já dava volta no quarteirão e coloca-os para fora da loja. Com as 2 camisas abraçadas ao peito, ele e Célio voltam ao carro.

Já no lobby do hotel, despedem-se e combinam a visita ao Cemitério do Bonfim para logo depois do almoço.

O gerente do hotel faz questão de atender Langdon pessoalmente.

— Bom dia Mr. Langdon, é um prazer recebê-lo em nosso hotel. Aceita um pãozinho de queijo? Robert pega a caixa toda.

— Estamos com a lotação esgotada, mas uma celebridade como o senhor merece nossa melhor suíte. Infelizmente apareceu um contratempo pois nossos funcionários estão em greve e o senhor terá que fazer sua própria cama, diz o gerente desajeitadamente.

— Sem problema, estou acostumado a fazer isso lá em casa. Nem tenho diarista, respondeu.

— Ufa! Que alívio Mr. Langdon! Aqui estão as tábuas, o martelo e os pregos, exibindo um sorriso de orelha a orelha.

Em cinco minutos já ecoavam as marteladas vindas do último andar do hotel.

To be continued...

Sobre o autor

Sou Linux desde criancinha. Foi meu amigo Rodney, creio em 1998, que me botou no barco quando me deu um curso de um minuto e meio de VIM mostrando como entrar, editar, salvar e sair. Em seguida me apresentou o MAN dizendo: Te vira, tá tudo aí, dá um Q para sair e um mc para passear. Então virou as costas e foi embora. Anos depois meu grande amigo, o abominável Júlio das Neves, o Papai do Shell, me deu de presente um curso profissional de Shell Script em uma caverna do Afeganistão. Nesse meio tempo li o livro Unix Text Processing, igualmente marcante. Agradeço aos amigos Rodney, Júlio, Rodrigo, CelinhoPlace, Aurélio2txt, Henrique, Red Alexandre, Queiroz e família, os Brod, Lucas da Óxenti, Sulamita, Roxo, K_Helinho, Renato, Edson Perl, os 4Linux e também os Solis, o grande Mr. Lutkus, Orlando Nipo, e tantos outros que conheci através da finada Revista do Linux, empreita que tenho orgulho de ter participado. A lista é longa demais mas preciso dar um << EOF.

Trabalho com jornalismo de informática, direta e indiretamente, há anos. Fiz alguns prefácios de livros de amigos nos últimos anos os quais referencio como sendo o núcleo de uma organização clandestina a quem pessoalmente chamo de a "turma do MAN Salão". Punto, já falei demais. O resto, nem sob tortura.

Veja a relação completa dos artigos desta coluna