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Por Frederick Montero
Data de Publicação: 04 de Março de 2007
Primeira parte
Nota do autor: Este artigo inaugura uma série de artigos no qual eu abordarei a análise e implementarão de um sistema de distribuição de vídeos pela internet, sempre procurando manter a atenção na qualidade do serviço para o espectador. Espero que tenham paciência para ler todos os artigos e que no final eles venham a ajudá-los na escolha de ferramentas para a condução de um processo semelhante ao caso analisado.
Há dez anos atrás, meu primeiro emprego foi com edição de vídeos comerciais em uma agência de publicidade em Campinas, no interior de São Paulo, chamada Focus Propaganda. Naquela época, a internet ainda era uma ferramenta muito pouco explorada no Brasil e bem desconhecida do grande público. Raramente, eu encontrava alguém que já possuísse um email, quanto mais alguém que acessasse habitualmente a internet. Mas nessa agência onde comecei a trabalhar, a internet já era bastante utilizada no dia-a-dia em tarefas que para nós atualmente nos parecem banais, como enviar arquivos para gráficas, receber fotos para anúncios e postar vídeos para aprovação do cliente através de FTP, além da comunicação interna dos funcionários por meio de ICQ. Em pouco tempo, tudo isso se difundiu muito rapidamente e virou senso comum, porém no início do ano de 1997, todos esses utensílios eram difíceis de serem explorados e não encontravam muitos equivalentes no mercado publicitário. Na Focus, ao contrário, havia sempre a preocupação em desenvolver novas técnicas que pudessem ser empregadas no aprimoramento dos processos de trabalho, constantemente buscando imaginar até onde a tecnologia poderia conduzir a empresa dentro de alguns anos. Vez ou outra, ainda hoje, me recordo que o meu chefe naquela ocasião e um dos sócios da agência tinha o costume de seqüestrar um funcionário por uma hora ou mais para devanear sobre como ele imaginava as mudanças e o futuro da publicidade, das comunicações e do trabalho dentro das empresas. Num desses bate-papos prosaicos comigo, ele então me confidenciou um dos grandes sonhos dele:
Um dia não precisaremos enviar fitas de vídeo com os comerciais para as emissoras de televisão. Os comerciais serão arquivados em servidores nas próprias produtoras e quando entrar o intervalo de um programa, a emissora irá disparar os vídeos dos comerciais direto dos nossos servidores e retransmiti-las para as televisões de todo Brasil.
Para quem o escutava falar sobre o assunto, aquela parecia uma realidade anos-luz da qual nós vivíamos então em 1997, mas dez anos depois, relembrando tudo o que ele me dizia, as previsões do meu ex-chefe não parecem agora tão distantes e fantasiosas. Hoje nós temos o YouTube, o podcast e as redes P2P e então qualquer um pode distribuir qualquer conteúdo multimidiático para centenas ou milhares de espectadores espalhados pelo Brasil ou pelo mundo, sejam vídeos comerciais, vídeos institucionais ou apenas a filmagem do aniversário de um sobrinho. Imagino que ainda é completamente inviável a idéia de que algum dia cada um de nós tenhamos um servidor de dados alimentando de vídeos televisões ao redor do mundo, até porque fica mais fácil armazenar estes vídeos em um servidor único para milhares de pessoas, como faz o YouTube e o GoogleVideo. Mas paulatinamente a criação e produção de vídeos, músicas e outros tipos de conteúdo se descentraliza das grandes corporações geradoras de conteúdo, de modo que qualquer um com uma câmera na mão e um computador pode transmitir sua voz, imagem e idéias através da rede mundial de computadores. E atrás desta oferta de material pela internet, a convergência tanto entre equipamentos, como televisão, rádio e computador, quanto entre diferentes tipos de conteúdos avança e já começa a se tornar uma realidade mais palpável para o cidadão comum.
Desde que comecei a utilizar o computador para gerenciar minha coleção de músicas sempre desejei poder arquivar toda a minha discoteca e videoteca em um servidor único e central, para poder acessar minhas músicas e meus filmes de qualquer cômodo da minha casa. Porém apenas há um ou dois anos começaram a surgir programas e equipamentos que conseguiam unir a praticidade e a simplicidade dos eletrodomésticos, como a televisão e o rádio, com a multiplicidade de opções e a flexibilidade dos computadores. Com isso, novas perspectivas vão se abrindo não apenas no campo do entretenimento, mas também em outras áreas que usam dos meios aprimorados pelo entretenimento para se beneficiarem com um novo universo de gigantescas possibilidades nunca exploradas antes. Entre essas áreas, posso citar a educação à distância, desde o viés acadêmico, em escolas e universidades, até o seu perfil corporativo e institucional, nas empresas, com o treinamento de funcionários e a capacitação de colaboradores.
Recentemente, em um trabalho no qual estive envolvido na área de educação, a equipe com a qual trabalhei buscou no entretenimento as ferramentas para colocar em prática um projeto de distribuição de vídeos pela internet para uma audiência de alunos e funcionários de um empresa no ramo de educação. Dentro do espírito do projeto, queríamos experimentar novas formas de alcançar e fidelizar nosso público, procurando fugir da regra comum de inserir os vídeos em uma página na internet, igual ao que ocorre no YouTube. Pois, por mais simples que nos pudesse parecer adotar a solução ao estilo YouTube, ela deixava a apresentação dos vídeos pouco atraente e confortável para um espectador cativo, principalmente no caso de cursos e palestras, cuja duração costuma ser mais longa, chegando a ultrapassar uma hora de transmissão. Mas o sistema precisava manter o interesse do aluno pelas aulas sempre renovado e por isso o processo de renovação, gerenciamento e reprodução do conteúdo necessitava ser o mais claro, dinâmico e simples possível, a tal ponto que, para o aluno, assistir às aulas pela internet seria algo tão comum quanto assistir a um programa pela televisão, mesmo não obtendo a mesma qualidade de imagem.
Frederick Montero, diretor, produtor e editor de vídeo. Formado em Filosofia pela Unicamp, é diretor do vídeo Supermegalooping, premiado no Primeiro Festival de Vídeos pela Internet. Mantém o blog sobre mídias digitais d1Tempo Digital.
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