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Vodcast: Distribuição de Vídeos pela Internet - Parte 3

Por Frederick Montero

Data de Publicação: 17 de Março de 2007

4. Podcast e Vodcast

O Podcast ainda era um meio de distribuição de arquivos de áudio e vídeo pela internet muito recente, quando em uma empresa holandesa chamada JetStream descobriu-se que o mesmo método podia ser usado para criar uma lista de reprodução de streaming e nomeou este novo formato de Vodcast. Apesar de o termo ser muitas vezes confundido com o podcast de arquivos de vídeo, no qual esses arquivos são baixados para os computadores, conforme o Vodcast passa a ser mais conhecido na sua forma original, mais pessoas começam a associar o nome ao método de distribuição de streaming via podcast.

Na época em que Adam Cury, ex-VJ da MTV norte-americana, lançou a moda do podcast, este consistia em criar arquivos XML, nos moldes dos Feeds de RSS, que endereçavam para arquivos de áudio, com programas em estilo radiofônico. Mais tarde a idéia evoluiu para a distribuição de outros tipos de arquivos como PDFs e vídeos. Com a proliferação dos iPods, o Podcast foi ganhando status de novidade da moda, porque era um modo eficiente e fácil do grande público de criar programas no estilo que se ouve nas rádios ou que se vê na televisão e transmiti-los para uma hipotética audiência, tudo isso antes do advento do sucesso do YouTube. Mas a amplitude da sua aceitação pelo público ainda se mostra bastante limitada, mesmo depois de dois ou três anos desde o seu advento, como demonstram pesquisas recentes nos Estados Unidos, país onde o podcast mais se expandiu. Em parte devido a sua pouca idade, mas em grande medida também devido ao amadorismo de muitos programas, que mais se assemelham à blogs muito pessoais em áudio e vídeo e também à limitada oferta de equipamentos que possam utilizar satisfatoriamente as suas vantagens. Em relação a este último caso, até há pouco tempo atrás, o podcast era visto como um meio de inserir conteúdo nos iPods, até porque à princípio era para esta finalidade que ele tinha sido criado. Com o tempo, o método alcançou outros equipamentos, mas sempre se restringindo ao universo dos gadgets ou, por vias indiretas, dos computadores, até porque ele precisava desses como ponte entre a internet e os aparelhos eletrônicos de mão. Porém os verdadeiros meios nos quais o podcast teria plena capacidade de se desenvolver com liberdade e força ainda não haviam sido contemplados com as ferramentas completas necessárias para atingir o grande público. Enquanto uma forma de distribuição de conteúdo em áudio e vídeo, o podcast se ressentia da falta de equipamentos que refletissem o seu próprio jeito de ser. O podcast, como meio de transmitir programas radiofônicos e televisivos através da internet, deveria ter como suporte aqueles equipamentos que são diretamente construídos para o fim ao qual ele se destina: o aparelho de som e a televisão.

Gradativamente, a tecnologia derruba as principais barreiras que impedem a criação de uma ponte que permita ligar os conteúdos oferecidos através do podcast com os aparelhos de som e televisão. Entre essas barreiras está o mito da briga entre a televisão e o computador pelo controle da atenção no núcleo familiar. Baseados em algumas pesquisas recentes, nas quais os resultados indicam que a televisão vem perdendo espaço para a internet como o principal meio de lazer das famílias, muitos analistas acreditam que é iminente uma futura derrocada da televisão em favor da internet depois de décadas de domínio em todos os lares. Porém o mais provável é que a televisão se reinvente como meio de entretenimento e informação para as famílias, incorporando diversas ferramentas do campo da informática e da internet, sem com isso perder muitas das suas características fundamentais, que são a facilidade de na sua utilização e a capacidade de capturar quase que integralmente a atenção dos espectadores. Neste contexto, a tendência é a televisão e o computador se mesclarem em um novo tipo de aparelho, capaz de reunir as características principais de cada um, necessárias para o perfeito funcionamento do sistema como um todo.

Baseado nesta premissa, alguns fabricantes de computadores e a Microsoft imaginaram que a solução ideal estaria relacionada com a criação de uma nova categoria de computador, a dos Media Centers. Máquinas construídas para agregar funcionalidades anabolizadas dos programas multimídias ao computador comum, com o qual já se tem o hábito de navegar pela internet, montar planilhas de cálculo, escrever em editores de texto, entre outras coisas. Com o tempo, o projeto dos Media Centers demonstrou-se um grande fracasso, devido principalmente ao fato de ser um computador deslocado para a função ou para o local errado, além de excessivamente dispendioso para a tarefa a qual era designado. Com isso, com o campo deixado em aberto, surgiu uma oportunidade para uma outra categoria de equipamento preencher a lacuna, os set-top boxes, aparelhos que então se concentrariam em apenas fazer a ponte entre o computador e a televisão ou entre a internet e a televisão de um modo confortável, simples e direto. Então haveria dois modos de atuação para os set-top boxes. O primeiro seria armazenar as mídias, no caso, filmes, séries de TV ou música, em um computador e o set-top box apenas acessaria essas mídias direto do computador, requisitando a sua transmissão do computador para si, através de uma rede interna, e depois a reproduziria na televisão. Neste caso, o computador seria abastecido de conteúdo através de CDs, DVDs, de lojas virtuais ou por meio de podcast, que poderia estar fornecendo uma lista de programação. Ou, em segundo lugar, o set-top box requisitaria a transmissão diretamente da internet, desde um servidor onde as mídias estariam armazenadas. Deste modo, as opções mais viáveis seriam uma loja virtual, um servidor de streaming ou download e o podcast, para fornecer a programação deste servidor. Em ambos os casos, o podcast se oferece como uma opção viável para apresentar ao espectador uma lista de acesso randômico a filmes e programas de TV ou rádio.

Mas o podcast também apresenta as suas limitações, que dificultam a sua adoção como alternativa ao modelo tradicional de transmissão tradicional. A primeira limitação se refere ao próprio processo de download no qual fica vedada a reprodução total do vídeo até que todo o download se complete. A melhor solução seria conseguir aliar o sistema de podcast com a possibilidade de ocorrer o donwload progressivo dos conteúdos, através do qual é possível assistir ao trecho do vídeo correspondente a porção que já foi baixada para o computador. Processo muito semelhante ao utilizado no YouTube, mas que também oferece as suas limitações. No caso, a sua dependência na velocidade do download, como podemos perceber quando o vídeo repentinamente deixa de ser reproduzido à espera de que uma nova porção seja baixada, o suficiente para tocar um outro trecho. E também a impossibilidade de acesso randômico aos trechos do vídeo. Isto é, se eu quiser pular a introdução de um vídeo e assistir diretamente a sua segunda parte, eu tenho que esperar baixar o vídeo todo ou, como no caso do download progressivo, esperar a baixar toda a porção referente ao início do vídeo até o trecho que desejo assistir. O que representa um desperdício de tempo do espectador e de transmissão excessiva de dados.

A segunda limitação diz respeito à segurança no compartilhamento do conteúdo. Se eu desejo limitar a distribuição do meu conteúdo pela internet, uma vez que eu disponibilizei os meus vídeos para download através do podcast, fica-me muito difícil saber até onde e para quem esses vídeos podem chegar. Certamente, a resposta poderia surgir da adoção de um sistema de gerenciamento de direitos nos arquivos, os famosos DRMs. Mas movimentos recentes no campo do entretenimento mostram que o público cada vez mais se opõe com veemência às restrições muitas vezes confusas e absurdas impostas pelos DRMs.

Em terceiro lugar e talvez a mais importante limitação seja a ausência das transmissões ao vivo através do download de arquivos. Pois nem todos os conteúdos podem necessariamente serem vistos tempos depois do seu encerramento. Partidas de futebol, entregas de prêmios ou pronunciamentos de autoridades e chefias, em sua grande maioria, requerem que o espectador os acompanhe durante o seu decorrer, seja por questão da emoção do momento, seja pela questão da urgência da mensagem a ser transmitida. Assim, disponibilizá-los apenas depois do encerramento do evento dilui a força do acontecimento e testemunha contra o sistema de podcast.

Não que o podcast seja de todo mal. Muito pelo contrário, pois em muitos casos representa uma solução atraente para a distribuição de mídia pela internet. Mas ainda assim deixa muitas pontas soltas que podem ser aprimoradas. O segredo está em perceber que o podcast funciona como um meio de indicar um arquivo para ser baixado por um programa multimídia; seja este arquivo um vídeo, um áudio, uma foto, um texto ou apenas uma simples referência a uma transmissão em forma de streaming, como ocorre com o Vodcast. Deste modo, o arquivo xml, que contém todas as informações referentes aos conteúdos oferecidos, indica a localização de um streaming ao invés de um arquivo completo para download. As vantagens neste caso são todas aquelas que suprem as dificuldades que encontramos no podcast: acesso direto e randômico ou não-linear aos vários trechos de um vídeo; mais segurança na distribuição do conteúdo; e a liberdade para a exibição de transmissões ao vivo.

Sobre o autor

Frederick Montero, diretor, produtor e editor de vídeo. Formado em Filosofia pela Unicamp, é diretor do vídeo Supermegalooping, premiado no Primeiro Festival de Vídeos pela Internet. Mantém o blog sobre mídias digitais d1Tempo Digital.


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