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Por Frederick Montero
Data de Publicação: 20 de Abril de 2007
Desta vez, vou pedir licença ao meu colega Jaime Balbino, da coluna Educação e Tecnologia, para entrar um pouco com o assunto no seu campo de conhecimento. Sei que posso estar incorrendo em uma estrada pouco familiar para mim, mas em parte eu tomo a liberdade de me arriscar por esse caminho graças à sorte de poder trabalhar ao lado do Jaime na mesma empresa, no ramo de educação à distância.
De tempos em tempos, é comum uma área dentre as várias que compõem a diversidade das atividades humanas receber uma forte dose de atenção da sociedade, principalmente através dos meios de comunicação. E como é comum acontecer nessas ocasiões, surgem os aventureiros a espreita de oportunidades para lucrar com o excesso de notícias e comentários a respeito do assunto da moda. Então o foco muda de direção e os que entraram na onda apenas para lucrar rápido desaparecem, deixando na mão muitas outras pessoas que foram induzidas a acreditar que aquilo era o Santo Graal da oportunidade de crescimento profissional e pessoal.
A nova onda do momento agora é a educação à distância. E nessa atual moda, eu escuto muitas promessas falsas de democratização do ensino através da tecnologia. Mas através dessas promessas, eu vejo apenas a visão equivocada de que a educação à distância é o meio perfeito de maximizar lucros de muitas empresas da área educacional, diminuindo os custos com professores e deslocamento de pessoas, e de uniformizar o ensino, centralizando as aulas. Isso então me levanta uma dúvida: o que é o aprendizado através de uma tela de televisão ligada a um sistema de transmissão via satélite? Ou o que é o ensino através da tela de um computador ligado à internet? A televisão, o computador, a internet, assim como os livros, as apostilas, os CD-roms ou DVDs são nada mais do que meios pelos quais o aprendizado pode ocorrer. Porém aprendi com muitos professores e professoras que o ato de educar começa muito antes de o conteúdo chegar ao aluno, com uma sólida metodologia de ensino e um bom planejamento das aulas. E a educação continua então através de uma didática e um conteúdo capazes de cativar o aluno e capturar a sua atenção para o assunto abordado. A tecnologia em si não agrega valor ao aprendizado se não for acompanhada de uma metodologia de ensino apropriada para o meio que ela utiliza.
Percebo que hoje em dia existe uma ânsia muito grande nas pessoas e nas empresas em mergulharem logo na onda da educação à distância, tanto para o setor acadêmico, quanto para o de treinamento corporativo. Mas nessa ânsia gigantesca de aproveitar o movimento, muitos se preocupam excessivamente com equipamentos e programas para facilitar o ensino e se esquecem de pensar no primordial, que é adaptar a cada meio específico sua didática e sua metodologia de ensino. Pois não adianta imaginarmos que ligar uma câmera na frente do professor e pedir para que ele reproduza o mesmo tipo de aula que costuma ministrar diretamente para seus alunos face a face funciona. Cada meio, como a televisão ou a internet, requer uma metodologia própria para o tipo de curso que é oferecido.
Em muitos casos também, ignora-se por completo um planejamento que busque integrar esses diversos meios para que o aprendizado se torne mais eficiente e atraia o aluno para o formato de educação à distância, compensando as eventuais dificuldades comparativas em relação a educação presencial, no qual o professor e alunos se vêem pessoalmente. Por melhores que as soluções tecnologias possam ser, o contato humano entre professor e aluno é uma experiência rica e motivadora. Mesmo que eu possa aprender por conta própria, lendo livros e artigos ou assistindo a filmes e vídeos, o professor é a figura central no aprendizado que incentiva o aluno a apaixonar-se por um tema (ou a odiá-lo também). Mas na falta da presença física do professor para motivar o aluno pessoalmente, a educação à distância se vê obrigada a enriquecer a experiência educativa do aluno, fornecendo meios e ferramentas que se autocompletem, formando uma rede de informações, conhecimentos e relacionamentos pessoais que possam amparar o aluno e o professor na sua sede por conhecimento, como o descrito no artigo A Escola de Maria, da coluna Educação e Tecnologia.
Por sorte, os modismos passam e ao final apenas o substancial muitas vezes prevalece, graças a algumas vozes sensatas, como no caso da educação à distância com a de Jaime Balbino. O difícil é ver o esforço e dinheiro de muitas empresas e profissionais se perderem por caminhos errados, acreditando que grandes investimentos apenas em equipamentos e tecnologias são mais importantes do que em pessoas e idéias.
Frederick Montero, diretor, produtor e editor de vídeo. Formado em Filosofia pela Unicamp, é diretor do vídeo Supermegalooping, premiado no Primeiro Festival de Vídeos pela Internet. Mantém o blog sobre mídias digitais d1Tempo Digital.
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