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Nação Fraterna

Por Frederick Montero

Data de Publicação: 25 de Abril de 2008

Política vai muito além da torcida para um partido, candidato ou tendência como se torcêssemos para um time de futebol no campeonato brasileiro. O grande problema nas discussões políticas no país talvez resida no fato de sempre se restringirem às situações comezinhas ou questões rasteiras entre esquerda e direita, porque o Brasil não tem um conceito que sirva de bandeira ou mote para as ações e pensamentos de seus políticos e cidadãos, nem ícones ou heróis que representem esse conceito. Os Estados Unidos são um país, por exemplo, que tomou para si o tema da Liberdade como um conceito para representar o seu modo de ser e agir. E grande parte da sua cultura, do cinema à política, reflete esse conceito, criando heróis que lutam pela causa da Liberdade.

No caso da França, seguindo através do lema da própria revolução francesa, temos que a sua marca é o conceito de Igualdade e, portanto, sua cultura reflete esse conceito, buscando evidenciar que a democracia se alcança através da Igualdade de todos os cidadãos (diferentemente dos EUA, onde a Liberdade é o principal conceito regulador da democracia). Não busco dizer que os EUA sejam um país que aplica perfeitamente a Liberdade e nem que a França seja o país onde há Igualdade plena entre todos. Conheço as contradições que se criam dentro destes países como o cerceamento das liberdades em Guantánamo ou o crescimento do ódio racial na Europa. Apenas friso que esses conceitos são a força impusionadora das idéias e realizações desses países. Pois toda a discussão política, artística e social dessas nações gira sempre em torno destes mesmos temas, a Liberdade entre os americanos e a Igualdade entre os franceses. Sem essas idéias, esses países ficariam dando voltas em torno de questões menores e não construíriam uma cultura que ultrapassa os limites das suas fronteiras. Penso que o falta ao Brasil um conceito que sirva como base para fugirmos das discussões rasteiras e ajude às diferentes facções a focar em uma direção comum, mesmo que haja divergências sobre como chegar lá. Talvez, se quisermos nos manter no campo de conceituação da democracia, uma saída seria adotar o lema da Fraternidade como um conceito para representar o Brasil e trabalhar na construção de ícones, histórias e heróis que sirvam como mote para lembrar todos os brasileiros da importância deste conceito, como Santos Dumont, que deixou seus interesses pessoais de lado e nunca buscou patentear suas invenções, como os irmãos Wright, pensando no desenvolvimento da humanidade.

O cerne da questão é pensarmos se cabe o conceito de Fraternidade ao Brasil como uma representação do nosso estado atual ou como representação do nosso objetivo enquanto nação. Eu aposto no segundo, porque esses conceitos (Liberdade/EUA, Igualdade/França) são trabalhados em cada nação como recados ou recordações constantes da condição que as pessoas devem buscar para si ou para os outros (mesmo que por vias tortas, como ocorre com os EUA). No nosso caso, o conceito de Fraternidade creio que se encaixa muito bem ao Brasil, porque envolve a questão de família, união, proximidade que os brasileiros tanto têm em si em relação uns aos outros. E em qualquer família temos as nossas diferenças e brigas, mas no final das contas nos sentimos todos próximos e parte de uma único grupo, no qual o crescimento de todos depende da colaboração de cada um (um pouco como empurrar a kombi em Pequena Miss Sunshine). A Fraternidade depende em grande medida da adaptabilidade dos indivíduos às diferenças entre as pessoas e a maleabilidade do caráter do brasileiro permite que diferentes convivam em harmonia e aceitem as suas diferenças sem grandes conflitos ou cisões.

O principal não é discutir como o Brasil "é", mas como "desejamos" que o Brasil seja, qual o nosso objetivo enquanto nação neste mundo. Ou seja, colocar uma idéia como mola impulsionadora das nossas ações. Temos duas alternativas: colocar um objetivo para o nosso país e lutar por este objetivo, pelo bem ou pelo mal; ou ficar discutindo frivolidades e problemas específicos e passageiros. O tema Fraternidade pode ter sido escolhido gratuitamente para o Brasil, mas se pensarmos no perfil deste país em relação aos outros países, na sua imagem tanto aqui dentro, quanto no estrangeiro e em um ciclo de desenvolvimento da democracia no mundo, o conceito começa a fazer sentido. Temos a chance de optar entre transformarmo-nos em uma nação trágica, onde realizamos por completo o nosso papel no mundo, ainda que se criem paradoxos (como no caso dos EUA, com o Iraque) ou podemos nos manter um país bufão, no qual nunca chegamos a construir o nosso caráter em definitivo. Portanto, não é uma questão de ser, mas de agir, construir e erguer novos ideais para o Brasil.Nação Fraterna

Política vai muito além da torcida para um partido, candidato ou tendência como se torcêssemos para um time de futebol no campeonato brasileiro. O grande problema nas discussões políticas no país talvez resida no fato de sempre se restringirem às situações comezinhas ou questões rasteiras entre esquerda e direita, porque o Brasil não tem um conceito que sirva de bandeira ou mote para as ações e pensamentos de seus políticos e cidadãos, nem ícones ou heróis que representem esse conceito. Os Estados Unidos são um país, por exemplo, que tomou para si o tema da Liberdade como um conceito para representar o seu modo de ser e agir. E grande parte da sua cultura, do cinema à política, reflete esse conceito, criando heróis que lutam pela causa da Liberdade.

No caso da França, seguindo através do lema da própria revolução francesa, temos que a sua marca é o conceito de Igualdade e, portanto, sua cultura reflete esse conceito, buscando evidenciar que a democracia se alcança através da Igualdade de todos os cidadãos (diferentemente dos EUA, onde a Liberdade é o principal conceito regulador da democracia). Não busco dizer que os EUA sejam um país que aplica perfeitamente a Liberdade e nem que a França seja o país onde há Igualdade plena entre todos. Conheço as contradições que se criam dentro destes países como o cerceamento das liberdades em Guantánamo ou o crescimento do ódio racial na Europa. Apenas friso que esses conceitos são a força impusionadora das idéias e realizações desses países. Pois toda a discussão política, artística e social dessas nações gira sempre em torno destes mesmos temas, a Liberdade entre os americanos e a Igualdade entre os franceses. Sem essas idéias, esses países ficariam dando voltas em torno de questões menores e não construíriam uma cultura que ultrapassa os limites das suas fronteiras. Penso que o falta ao Brasil um conceito que sirva como base para fugirmos das discussões rasteiras e ajude às diferentes facções a focar em uma direção comum, mesmo que haja divergências sobre como chegar lá. Talvez, se quisermos nos manter no campo de conceituação da democracia, uma saída seria adotar o lema da Fraternidade como um conceito para representar o Brasil e trabalhar na construção de ícones, histórias e heróis que sirvam como mote para lembrar todos os brasileiros da importância deste conceito, como Santos Dumont, que deixou seus interesses pessoais de lado e nunca buscou patentear suas invenções, como os irmãos Wright, pensando no desenvolvimento da humanidade.

O cerne da questão é pensarmos se cabe o conceito de Fraternidade ao Brasil como uma representação do nosso estado atual ou como representação do nosso objetivo enquanto nação. Eu aposto no segundo, porque esses conceitos (Liberdade/EUA, Igualdade/França) são trabalhados em cada nação como recados ou recordações constantes da condição que as pessoas devem buscar para si ou para os outros (mesmo que por vias tortas, como ocorre com os EUA). No nosso caso, o conceito de Fraternidade creio que se encaixa muito bem ao Brasil, porque envolve a questão de família, união, proximidade que os brasileiros tanto têm em si em relação uns aos outros. E em qualquer família temos as nossas diferenças e brigas, mas no final das contas nos sentimos todos próximos e parte de uma único grupo, no qual o crescimento de todos depende da colaboração de cada um (um pouco como empurrar a kombi em Pequena Miss Sunshine). A Fraternidade depende em grande medida da adaptabilidade dos indivíduos às diferenças entre as pessoas e a maleabilidade do caráter do brasileiro permite que diferentes convivam em harmonia e aceitem as suas diferenças sem grandes conflitos ou cisões.

O principal não é discutir como o Brasil "é", mas como "desejamos" que o Brasil seja, qual o nosso objetivo enquanto nação neste mundo. Ou seja, colocar uma idéia como mola impulsionadora das nossas ações. Temos duas alternativas: colocar um objetivo para o nosso país e lutar por este objetivo, pelo bem ou pelo mal; ou ficar discutindo frivolidades e problemas específicos e passageiros. O tema Fraternidade pode ter sido escolhido gratuitamente para o Brasil, mas se pensarmos no perfil deste país em relação aos outros países, na sua imagem tanto aqui dentro, quanto no estrangeiro e em um ciclo de desenvolvimento da democracia no mundo, o conceito começa a fazer sentido. Temos a chance de optar entre transformarmo-nos em uma nação trágica, onde realizamos por completo o nosso papel no mundo, ainda que se criem paradoxos (como no caso dos EUA, com o Iraque) ou podemos nos manter um país bufão, no qual nunca chegamos a construir o nosso caráter em definitivo. Portanto, não é uma questão de ser, mas de agir, construir e erguer novos ideais para o Brasil.

Sobre o autor

Frederick Montero, diretor, produtor e editor de vídeo. Formado em Filosofia pela Unicamp, é diretor do vídeo Supermegalooping, premiado no Primeiro Festival de Vídeos pela Internet. Mantém o blog sobre mídias digitais d1Tempo Digital.


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