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Por Fernanda Alves Chaves
Data de Publicação: 12 de Setembro de 2007
"- Sabe de uma coisa?!. Vocês podem ficar aí, fincando palanque no banhado. Eu vou pra Maracangalha. Ah.. Se vou!!!"
Que delícia! Quem não tem vontade de dizer todas essas frases, em alto e bom som? Ahhhh.... Discussão no ambiente de trabalho. Divergência de opiniões entre colegas. Ficar P da vida e ter vontade de chutar o balde. Será que só eu passo por isso? Ufa, alívio! Nem precisam responder. Tenho certeza que vocês, vez ou outra, também ficam tristes, chateados ou frustrados no trabalho. E, inevitavelmente, sentem vontade de se juntar a mim em um cruzeiro rumo a Maracangalha, com escala em Pasárgada...
Dia desses, depois de um difícil dia de trabalho, me encontrei com dois velhos amigos: o Adan e a Bohemia. No que me encontrei com eles, o Adam me perguntou: (a Bohemia é mais tímida, gelada mesmo e fala pouco)
Adam: Mas..., Fer, o que aconteceu que te deixou tão braba? Você está com uma cara.
Fer: Estou com cara de quem brigou no trabalho. Lembra daqueles conselhos que você me dá? Então, fiz exatamente o contrário. Discuti com quem não podia e falei verdades demais.
Adam: Você sempre fala demais. Até eu - que sou bobinho - sei disso.
Fer: Conheces a Análise Transacional?
Adam: É quando damos 'replay' no filmão pornx para analisar a performance das pecinhas?
Fer: Não, mente poluída! É um método psicológico de compreender e analisar comportamentos. Nos permite conhecer alguns componentes da personalidade - neste caso, chamados de Estados de Ego. Quando você consegue classificar qual é seu estado de ego predominante, fica muito mais fácil se relacionar com as pessoas de maneira efetiva. Pois bem, meu estado de ego predominante só pode ser o da "Criança". Pior que isso, Criança Livre, na polaridade negativa!
Adam: Sobe Freud! Larga essa menina! Sobe que esse corpo não te pertence.
Fer: As crianças livres, entre outras características, não são dissimuladas. Não sou atriz e quando algo me aborrece de verdade, é muito difícil eu não demonstrar tal insatisfação. Portanto, neste momento, nem importa o que aconteceu ou como aconteceu. O que importa é como eu reagi.
Adam: Você reagiu?! D'OH!
Poucas coisas nos chateiam mais que saber fazer algo e ver alguém fazendo aquilo de maneira errada.
Comumente, no nosso ambiente de trabalho, tem um povo que briga com unhas e dentes para fazer errado algo que eles sabem que está errado. Parece contraditório, não parece? Mas é verdade. E a única explicação que eu consigo enxergar para isso, é preguiça.
Tomo como exemplo os cidadãos não curitibanos em visita a melhor cidade do mundo - Curitiba. Eles sabem que devem jogar seus lixinhos em cestos públicos, destinados a isto. Mas não, eles insistem em jogar na rua, no meio da via pública. Antes de chamar isso de porquice, eu classifico como preguiça. Preguiça de se fazer o que é correto. Logo, na minha opinião, a preguiça é a mãe das coisas erradas. O pai não se sabe quem é, pois parece que a D. Preguiça achou que dava muito trabalho perguntar o nome do indivíduo.
Como é difícil querer fazer a coisa certa e os colegas de trabalho não colaborarem. Ou, pior ainda, é quando a empresa não está muito interessada. Não raro, em várias circunstâncias e com vários graus de intensidade, existem pessoas que sacrificam indiscriminadamente o nosso suor, nosso conhecimento, nossa vontade de crescer e de ter sucesso pessoal e profissional.
O que tem acontecido é que muitas pessoas deixaram de ver a empresa como um local bom, de desafios e responsabilidades. A partir daí, pra fugir da realidade dura que eles enfrentam, resolvem brincar (algumas vezes, inconscientemente) de "Escravos de Jó".
Escravos de Jó, jogavam Caxangá.
Tira, bota, deixa ficar.
Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue zá.
Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue zá.
Como em cada canto do país tem uma versão e explicação diferente da letra, essa será a minha versão oficial.
Enquanto estava pensando em escrever essa coluna, muitas dúvidas me vieram a cabeça. Quem é Jó? O que é jogo de Caxangá? O que é que tem que por e tirar? Porque raios a gente tira, põe e depois se arrepende e deixa ficar? Até tentei ir atrás do fiduma do Jó - o tal feitor. E também queria saber como é que os escravos dele conseguiam matar serviço pra se divertir.
Agora, vou explicar os significados corporativos que resolvi dar a versão da musiquinha.
Escravos -> nós, trabalhadores (na visão looser)
Jó -> o empregador ou a empresa
Caxangá -> o trabalho que desempenhamos
Guerreiros -> nós, trabalhadores (na visão winner)
Imagine que o Escravos de Jó das nossas crianças é a versão infantil do nosso "Jogo do Empurra", praticado dentro das empresas. Muitas vezes, nos vemos, mesmo sem querer, neste jogo de empurrar. Estamos lá, trabalhandinho, dando o nosso melhor, acrescentando coisas à organização, através da transformação dos nossos conhecimentos em esforços. Aí, aparece uma figura que está com preguiça de fazer a sua parte e começa a arranjar empecilhos. Após discussões, o grupo acaba se rendendo (pois brigar com preguiçosos e ignorantes é tarefa cansativa), e as pessoas que querem e gostam de trabalhar acabam entrando no jogo e fazendo as coisas de maneira errada mesmo. Não é difícil ver bons trabalhadores deixarem de ser produtivos, pois começam a brincar de tirar, de por e de, no final, deixar ficar. Assim como diz a música.
Quando empurramos nossas responsabilidades para outros colegas, eles tendem a não absorver e deixam a tarefa por fazer. Ou eles podem fazer de qualquer jeito. Em qualquer uma possibilidades, vai dar 'meleca' no final e o 'abacaxi' volta em forma de falta de responsabilidade e culpa para todo o grupo.
Tá, eu brinquei de Escravos de Jó no trabalho. E agora? O que faço? Chamo o Super mouse pra me salvar do perigo? Chamo a mamãe!?
Uma das primeiras coisas a fazer, é chamar o seu estado de ego "Pai", este vai te possibilitar enxergar sob dois ângulos, um protetor e outro crítico. O Pai vai mandar as Crianças dormirem (pois trabalho infantil é crime), e chama o cara que realmente deve prevalecer em nosso ambiente de trabalho. Quem consegue fazer isso? O nome dele é estado de ego "Adulto".
Sendo Adulto, você tem capacidade de analisar a situação, entender, explicar o problema para os outros e, até perceber possíveis soluções. O Adulto acaba com o jogo do empurra que acontece nas empresas, ele é racional e tende a ser justo.
Não tenha preguiça de fazer o seu trabalho de maneira correta. E, se você estiver com este pecado capital, assuma suas falhas e ponto de não prejudicar seus colegas de trabalho e a organização como um todo.
Busque seu equilíbrio quando passar sob situações de stress. Não permita que seus lados Pai e Criança(s), prevaleçam sobre o seu Adulto quando este deva ser o comandante.
E não se esqueça de brincar de Escravos de Jó, sim. Mas faça isso com seus filhos, sobrinhos, etc. Jamais na empresa, com seus colegas de trabalho.
Fernanda Alves Chaves é daquelas pessoas que buscam o que ainda há de humano em um ambiente dominado pela tecnologia. É administradora, especialista em Gestão de Pessoas, profissional de RH e professora universitária. A verdade mesmo é que ela gosta de gente, e é figurinha fácil entre os ambientes dominados por nerds, geeks, etc. Se empenha em ver toda a gente crescer, melhorar, atuar em redes. E, na visão dela, as pessoas começam a formar redes antes de chegarem perto de computadores! As redes se formam de mãos dadas, da troca de olhares, de palavras e... pois bem, também de e-mails, mensagens instantâneas e scraps. Independente dos meios, redes serão sempre de pessoas às quais a tecnologia deve servir, nunca o contrário. É para lembrar disto, sempre, que Fernanda nos brinda com sua coluna no Dicas-L!