INOVAÇÃO!! (ou obsolescência programada?!)
Por Jefferson Wanderley dos Santos
Data de Publicação: 06 de Julho de 2015
Convido os amigos a uma reflexão. Será que em nossa sociedade com o tipo
de serviço prestado pelas empresas e com várias e insistentes falhas de
infraestrutura e fatores conjunturais e estruturais, pode se pensar em
INOVAÇÃO?
INOVAÇÃO pressupõe um serviço novo, inédito. Também por ser inédito pressupõe
RISCO, se pressupõe risco equivale dizer que o consumidor deverá trocar o
certo pelo duvidoso.
Para se atrair a troca do certo pelo duvidoso, há que se ter garantias. Quais
garantias? Como está o pós-venda de produtos e serviços?
Tente cancelar uma assinatura de periódico e verifique as formas únicas,
quase impositivas, com as quais a empresa lhe atende ou reembolsa.
Tente renegociar a forma com a qual o seguro de seu automóvel pode prosseguir
modificado e verifique, também, as dificuldades que a empresas que lhe
promove um produto ou serviço lhe impõe como alternativas, se é que ela lhe
dará alguma.
Tente ter regularidade nos caros serviços de internet e televisão por
assinatura. Tente prosseguir em um processo de atendimento para correção e,
ainda pensando nos que moram fora dos grandes eixos econômicos, veja quanto
tempo se leva para se ter um técnico em sua residência, isto depois de
sobreviver ao papo forçado com uma atendente eletrônica.
Ao pensar em termos de pós-venda, vamos falar de oficinas autorizadas país
a fora. Não pense nas grandes cidades, pense nas cidades mais afastadas
em estados fora do eixo-econômico nacional. Verifique a qualidade do espaço
físico, verifique a integridade ética da empresa que lhe dará vários argumentos
para que se encerre a garantia para que você ou pague pelo conserto ou compre
outro produto.
Há uma miríade de exemplos de como o consumidor não é bem tratado em nossa
economia formal do dia a dia. Como pode se falar ou pensar em INOVAÇÃO no
Brasil se as grandes empresas, sobretudo as de telefonia (há várias outras em
nome, tamanho e categoria de serviços), são campeãs seguidas de reclamações
dos consumidores junto ao PROCON. Vejamos, anos seguidos registrados no
PROCON e seguem, anos seguidos, cometendo os mesmos erros que causam as
mesmas reclamações.
Quando você anota o protocolo de atendimento que não lhe satisfez e entra em
contato com a agência reguladora responsável (ANEEL, ANATEL, ANAC, ANVISA,
etc) veja a forma com a qual você será tratado e o tempo que você leva para
registrar suas queixas, ou se preferir, enviar um email a partir da própria
página (modismos dos B2C que não funcionam a contento) e veja quanto tempo lhe
retornam. Pensemos em dias de semana, porque se for fim de semana ou feriado...
Conforme digo a meus alunos, antes de aplicar os conceitos de livros de
sucesso procure ver:
a-) O país onde o autor se debruçou para analisar e escrever sobre o tema. Via
de regra é nos EUA onde tudo funciona. Não há problemas de infraestrutura, se
você reclamar de um serviço é reembolsado na hora e devolve o produto. Negocia
da forma que lhe for conveniente qualquer tipo de serviço e sai da loja ou
da empresa com as condições que lhe aprazem;
b-) Ver se as mesmas condições que o autor sugere serem adotadas para se lograr
sucesso existem no Brasil e se existirem qual a possibilidade de êxito; e
c-) Feito isto realize uma honesta e madura análise SWOT de seus "assets" e
das condições que você em sua organização pode promover e vender a ideia
de INOVAÇÃO.
Jamais se esqueça que o seu pós-venda é a chave para sua confiabilidade como
profissional e vontade do consumidor procurar, novamente, sua empresa para
comprar novamente o mesmo produto ou serviço ou outro, dada a qualidade do
atendimento que lhe encantou e não somente o produto em si.
Por fim, um parâmetro para lhe ajudar a colocar os pés bem firmes no chão
antes de propor uma inovação que irá envolver todos os setores de sua
empresa, parceiros e fornecedores: O país que se produz ideias e livros
sobre INOVAÇÃO tem infraestrutura e fatores conjunturais que lhe assessoram
e permitem produzir US$ 14 TRILHÕES, enquanto nós com nossas peculiaridades e
idiossincrasia apenas produzimos, e com muito esforço sob o peso de uma carga
tributária nominal de 38% do PIB, aproximadamente US$ 900 BILHÕES. Reflita nas
diferenças e caraterísticas acima e avalie o grau de sucesso de sua inovação.
Costumo dizer a alunos e amigos que o que mais sinto falta é um livro de
algum autor que se debruce sobre o Brasil real, aquele cheio de dificuldades
onde as sugestões teóricas não funcionam da forma com a qual os autores, que
desconhecem nossa realidade, pensam que funcionarão. A enorme quantidade de
livros que já li de brasileiros falam com enorme entusiasmo de receitas de
sucesso aplicadas para leitores que moram em países onde as coisas funcionam.
Enfim, inovação pode ser, até, a mola mestra do desenvolvimento, mas sinto uma
enorme falta das máquinas de lavar, geladeiras e aparelhos de ar-condicionado
antigos, confiáveis, duradouros com raras panes, mas que deram lugar a INOVAÇÃO
que, para mim, nada mais são do que arautos da obsolescência programada.
Ainda assim, se quiserdes inovar: Pés no chão e boa sorte!!