Sobre conchas, mares e marés.
Por Jefferson Wanderley dos Santos
Data de Publicação: 11 de Agosto de 2016
Reflexões sobre uma gratificante recompensa na lide de ensinar e preparar cidadãos para os desafios do mercado.
Lembro de uma estória que ouvi ainda garoto, de um jovem à beira-mar
ocupando-se de recolher conchas ressecadas incrustadas nas areias de uma
praia deserta, mas afastadas e longe do alcance das ondas da baixa maré.
Um senhor, com sabedoria estampada nos sulcos de sua face e cabelos grisalhos
e ralos, resolveu perguntar o motivo de atividade tão inusitada para ele. Ao
que o jovem respondeu: essas conchas estão ressecadas já rachando e estou
atirando-as para dentro da maré para que possam se revigorar e serem arrastadas
para o mar aberto com o refluxo das águas.
O senhor lhe perguntou qual a diferença que todo aquele trabalho daria
ao jovem, ao que o mesmo respondeu: Para ele nenhuma, mas muita para as
conchas, pois elas teriam nova chance de se recobrar e contribuir para formar
arrecifes e permitir o renascimento da flora e fauna naquela praia abandonada
e desértica por aquele motivo.
E quanto a mim? Por que relembrei daquela singela estória?
Ano passado foi-me dado o desafio de ministrar aulas na Disciplina de
Administração de Produção e Operações ocasião na qual apenas cinco alunos
se matricularam, quase que "na marra", para cumprir conteúdo, posto que a
fama da matéria era de ser árdua e "reprovante".
Ao final do semestre logramos êxito onde todos foram aprovados sem necessidade
de exames finais para nenhum dos cinco.
Semana passada iniciei a disciplina de Logística Empresarial, outro "fantasma"
em função de desempenhos abaixo do esperado em semestres anteriores com
outros professores fruto, quem sabe, do cansaço natural de quem passa o dia
trabalhando após sair muito cedo de casa. Qual não foi minha surpresa ao saber
que teria "apenas" oito alunos incluindo os cinco do semestre anterior. Ou
seja, apenas três se aventurariam. Contudo já me sentia feliz por haver 60%
de aumento de clientes.
Ontem, já na segunda aula, outra grata surpresa ao deparar-me com treze
alunos em sala. Soube que tinha sido após minha intervenção em um evento
coletivo defendendo um projeto naquela instituição de "consultoria júnior"
embora não entenda absolutamente nada acerca de tal proposta. Apenas repassei
exemplos de profissionais egressos de bancos escolares e suas vicissitudes
quando entrantes nas organizações e sugerindo ser a "consultoria júnior" uma
excelente opção para que estudantes se deparassem com problemas reais nas
organizações atendidas e agregassem, por antecipação, valioso conhecimento
prático de gestão e suas peculiaridades.
Já em sala, com o fenomenal aumento de 120% em minha clientela, iniciei
minha preleção informando que, não obstante a seguir rigorosamente o conteúdo
programático, nossas atividades seriam de um consultor construindo e lidando
com desafios ombreado a gerentes e supervisores, fatia laboral prevista para
atuação no mercado de egressos, em graduação, de faculdades.
Ao final da noite ao entregar o registro de classe na secretaria da Instituição
fui informado haver uma intempestiva procura de outros alunos para matrícula
na mesma disciplina, ao que a secretária me pediu preparação para atender
vinte cidadãos na expectativa de melhor se qualificarem para o mercado.
A rigor, o que apresentei aos treze nada mais foi do que eu havia
aplicado e trabalhado junto com os alunos de curso de tecnólogos, em outra
instituição, resguardando, claro, a diferenciação entre estes e graduados. De
sorte que durante o intervalo (são três horas de aula em uma noite) os
alunos divulgaram a metodologia que lhes ofertaria daí o motivo do aumento
de interessados.
Na Instituição anterior, à qual não fui reaproveitado, tive a grata
oportunidade e honra de servir a cidadãos em busca de competências para
concorrer em um mercado denso e incerto. Dei o melhor de mim, como sempre
faço em minhas atividades, sobretudo quando tratam-se de pessoas buscando
conhecimentos e qualificação. Emocionei-me ao ser escolhido como professor
homenageado.
Também muito me emocionou saber que uma senhora, mãe e trabalhadora, logrou,
na mesma instituição, a primeira nota DEZ em sua vida de estudante, e note-se
que a matéria era árdua também, Gestão de Armazenagem e Estoques.
Senti-me o jovem recolhendo conchas ressecadas e desacreditadas e
recolocando-as na "maré do mercado". Tenho absoluta convicção que os que
logram aprovação nas disciplinas que ministro terão sucesso no mercado. Eles
comporão corais e arrecifes, absorvendo os impactos das marés e dando
guarita a "pequenas e frágeis plantas e peixes" - futuros líderes- enquanto
se encorpam para, sozinhos, enfrentarem as ondas deste vasto e incerto mar
que é o mercado brasileiro.
Para mim, a quem Deus já proveu várias experiências profissionais e de
vida gratificantes, o "arremessar-lhes" de volta à maré não fará qualquer
diferença em minha vida ou carreira, posto que hoje ensino por prazer de
contribuir, contudo, para meus clientes alunos, tenho a convicção de que é
uma inigualável oportunidade.